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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Amor em tempo de ódio



TU

Foi uma nuvem negra carregada de desconfiança e arrastada pelo vento que te levou, para bem longe de mim.
Um negrume contagioso que te cercou de falsidade e logro, que te ofereceu a noite e a angústia e nunca mais te largou.
Procuro-te em todos os cantos das ruas desertas da minha fantasia, onde outrora percorríamos juntos, como adolescentes loucos de paixão, as pedras frias da calçada.
Sinto o sangue a pulsar em minhas veias, como se te possuísse pela primeira vez.
As ruas da minha imaginação continuam desertas, assim como o meu coração, onde apenas reconheço a súplica daquele pulsar arrítmico que cada dia é mais forte… e eu mais frágil.
Desde então o céu tornou-se pardo e triste, os dias ficaram sombrios e até as noites deixaram de existir.
A luz e o calor ardente abandonaram este meu corpo deserto, isento de um simples oásis onde me pudesse refrescar.
O ardor da minha paixão evaporou-se do meu íntimo, onde nossos corpos se dissolviam, em abundância de emoções, de um amor louco sem limite.
Hoje, ontem e amanhã o vazio acontece, aconteceu e acontecerá. Em minhas veias correm lágrimas de dor e de saudades sentidas por ti, porque nos meus olhos as lágrimas já não correm.
Sinto meu sangue envenenado de mágoas, entoando cânticos trémulos e fúnebres.
Deste silêncio, já nada me seduz, já nada sou. Já é tarde, muito tarde para te encontrar, para me encontrar.

EU

Triste e enfraquecido, regresso ao ponto de partida. Irei pegar num barco à vela e irei esperar pela nortada que me levará a ver as margens estreitas e encrespadas das recordações vividas e marcadas em cada esquina, onde me elogiavas, com as carícias de teus lábios colados aos meus. Sufocavas a minha respiração, com a força da tua espontaneidade.
Não sou homem de me mirar muito ao espelho. Contudo, é necessário ao barbear-me. Apesar da fraqueza ainda o faço. Diariamente espalho a espuma alva o mais rápido possível, tentando vencer o retorno que o espelho me oferta. O medo de descobrir que o que dizem é verdade…
No entanto ontem, abri os olhos fixei-o. Encontrei alguém mais velho que eu.
Um homem assustado, de olhos amedrontados e tristes. Cabelos ebúrneos nas têmporas que mostram a mão invisível do tempo.
Tempo que não espera por mim, e que avança a passos largos e que nessa trajectória sinuosa e imparável desenhou no meu rosto, traços pincelados pelos anos, alguns subtis, outros mais profundos, feitos pelo arado da subsistência, rugas inacabadas, rascunhadas por alegrias, tristezas, vicissitudes, enfim a vida...
Será que aquele alegórico rosto que ontem observei é mesmo meu?

ELES

Mas como diz uma amiga, “o amor não é posição de autista a olhar para o próprio umbigo. Quem não olha o outro ama uma parte da sua própria imaginação.”
Quem não erra na vida? Admito. Já errei muitas vezes. Quem nunca magoou ninguém? Aceito e sei que sim, eventualmente quem mais amo.
Penso que apenas duas pessoas idosas e enfermas me poderão ajudar a reconhecer a face que alguém me diz esconder.
Sim, mãe! Tu, pai! Apesar de tudo o que dizem, do que pensam, apenas vocês sabem quem sou.
Tu, mãe albergaste-me durante 9 meses no teu ventre e ainda hoje, me acolhes com o teu sorriso, sempre que me adivinhas chegar.
A ti, pai, homem simples agradeço os valores de vida que me transmitiste. A tua conduta que sempre testemunhei e procurei seguir… mas, que parecem querer não acreditar. Tu sim! Entregaste-me as rédeas soltas dos últimos dias da vossa vida, sem receio, sem pragmatismo, sem dúvidas.
Quantas lágrimas te caíram nesses teus caminhos de fome e pobreza, pai?
Quantas batalhas, ambos venceram nessa luta por uma sardinha cortada a meio e um quarto de leite?Quantas estrelas contaram à noite até o sono chegar cansados de mais um dia de arrasar?
Quantas lágrimas tu engoliste para não te sentires fraco, com a vida que te saiu em rifa?
Mas sempre foste um vencedor. Lembro quando me embalavas o berço de madeira que fizeste para mim. Acredita que me lembro.
O berço mais lindo do mundo!

NÓS

Quanta lágrima já chorei no teu enfatizado colo por me condenares à cadeira eléctrica, sabendo eu que estou inocente?
Tu, que dizes conhecer-me! Eu sei que não te conheço. Cada dia que passa a distância fica maior. É uma árdua tarefa tentar conhecer alguém que vagueia o infinito num curto espaço de tempo.
Não! Não sou o centro do mundo. Posiciono-me bastante ao lado, a um curto espaço do abismo que me chama constantemente, com voz e imagem que desconheço.
Sempre me disseram que cada, sente à sua maneira. Até a morte é encarada de forma diferente. Porque deveria o amor ficar do lado de fora? Se este é a génese da vida?
Sei que não te irei ouvir jamais. O orgulho aplanou, o ciúme venceu, a mentira convenceu.
Afinal somos tão parecidos nas divergências…
Vou partir para longe de quem ama uma imagem idealizada. Vou fugir de quem me acha culpado da própria existência.
Não pretendo ouvir galanteios em eco. Quero fugir de quem clama amor por todos os poros do corpo e deixa gravado em pinturas rupestres as mensagens mais pecaminosas que até hoje ouvi.
Quero fugir de quem sopra à rosa-dos-ventos a intimidade de um amor nosso que foi verdadeiro.
Quero fugir de quem vê desgraça em tudo o que eu faça. Que não aceita que alguém que nunca vi, que não conheço que está a quilómetros de mim, me façam um simples comentário, mas que diariamente…
Não! Também não quero!
Agora desejo apenas ouvir o rugir do vento, que me entontece neste mundo, e peço em cada momento, leva-me…


A frase entre aspas é da autoria de anamarques no texto “O que o amor não é” que poderá ler no Traição do EU

sábado, 24 de abril de 2010

The sky is broken


“É tão natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja “


Honoré de Balzac


Os actos ficam com quem os pratica. Há quem não saiba arrumar os sentimentos, as frustrações e a hipocrisia, naquele cantinho do sótão da consciência.
Não podemos agradar a Gregos e Troianos.
Como alguém me disse, até Cristo não agradou a todos. Não vejo porque o que escreva deva contentar todos os que aqui entram. Alguns podem identificar-se outros nem tanto.
Apenas gosto de escrever o que sinto, o que vejo, o que vivo no turbilhão da minha existência.
Devemos tentar extrair o bom do mau que o mau sempre contém. Por vezes existem passos que soam sem se ouvirem, ecoam num espaço infinito. Algures banido, ser anónimo, de coração disperso, fadiga e fome de nada. Vê-se a sombra, sente-se a forma, mas a alma é algo distante. Pois esse claustro em que te encerras é uma máscara que fere, fere o mundo, fere-te a ti, num eterno anonimato que te deixa desfeito num corpo por desfazer.
Transcrevo agora algumas palavras aqui largadas quando encerrei os meus blogues. Fazem sentido hoje no dia da abertura.
Não deixarei de realizar algo que me presenteia, por atitudes opacas e hipócritas, não será certamente a melhor opção.
É sobre a penumbra da minha sombra que a paisagem segura o horizonte cansado das minhas mágoas.
É na miragem do meu ténue corpo que mergulho toda a minha angústia.
É nas águas límpidas do meu coração que eu recordo os meus tristes sorrisos como crianças que em plena imaginação agarram o arco-íris.
É um prazer poder ter aqui pessoas que me merecem toda a consideração e é por elas que volto mais forte que nunca. Deixemos que os cães ladrem, porque a caravana irá sempre passar.
Nem que seja apenas para mim, que o sonho perdure eternamente.

●●●

Existem silêncios, que depois de magoarem tanto, nos tornam mais fortes, tal como amantes, que roubam beijos às escondidas e se devoram como se fosse sempre a última vez.
Existem silêncios, que depois de ferir tanto, nos ensinam o caminho do amanhã.
A vida voltou a pontapear-me fortemente, tão forte que só parei muito longe caído num pensamento.
Expulso do aconchego dos lençóis pelas contracções da madrugada, o meu despertar assemelha-se quase a um parto.
Incomoda-me a luz, e até o ar da manhã, me arde no peito. Procuro manter a realidade longe, naquele espaço, entre a vigília e uma réstia de sonhos que sobram nos meus enfadados olhos.
Deixo-me levar por intermináveis delírios, em que a mente se divide entre o que vê, e a paz que tira dos sonhos e do sono.
Enterro o que sinto no âmago da alma, e escondo-o como uma pessoa incapaz de confessá-lo, a si mesmo.
Eu queria apenas que as palavras fossem doces e ia morrendo em cada fria alfinetada, que sentia no peito.
O meu sorriso refugiou-se numa funda gruta, onde já não entrava a luz da madrugada.
O chão começou a estremecer quando o pisava, esfrangalhado. Os olhos sem vida, o desalento alienado e sem compaixão como as pedras da calçada onde escorrego, porque também elas estão gastas.
Não quero despertar da letargia. Apenas quero enroscar-me em mim mesmo, aconchegar-me aos lençóis, reatar o cordão umbilical dos sonhos, e navegar para fora de mim onde ninguém me poderá encontrar, nem mesmo eu.
Como um marinheiro cansado, estou à procura de um porto. Não tem que ser necessariamente seguro, basta ser um porto, um cais, terra firme.
Um porto onde eu possa ancorar as minha emoções em tumulto. Desembarcar as minhas pernas cambaleantes, da ondulação do mar que rugia em ganas desesperadas. Fugir da tempestade que teimava em rasgar o céu e o meu corpo, vestido de algas e que orava ao silêncio um poema morto.
Quero deitar o meu corpo cansado em terra firme, porque estou esgotado de tanto navegar em intempéries, mares bravios, ventos alucinados.
E apenas me consigo acalmar, quando dispo, o teu vestido das emoções.
Indefiro a mim próprio, o prazer da tua autêntica nudez e visto-te com os carinhos que me esqueci de dar, com a luz que sobrou do nosso último olhar, embebido das marcas do nosso amor.
Por vezes quando te dispo procuro o que falta em meu corpo pois o teu completa-me tanto que o meu não existe sem o teu, por essa razão quando me dispo te visto de mim.
Depois, e com apenas uma folha seca, que outrora marcava as páginas de um velho livro, que li vezes sem conta cubro o nosso corpo, enquanto encerro a porta ao tempo e respiro o luar que se vem deitar sobre nós.
Depois da mais uma manhã sou obrigado a sair da cama, numa cesariana, previamente planeada. No desejo de partir, na ânsia de ficar lanço na loucura dum sorriso, as lágrimas para chorar.
Peguei no tempo e esbocei-o na filosofia de um gesto. Olhei-me num espelho quebrado e vi um rosto partido.
Amanhã poderei já não ser eu!
Mas, enquanto não chega o amanhã, e o céu se mantém intacto, não quebre, encosta a tua boca à minha e fala comigo esta noite.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Naufrágio de um sonho


Existem momentos na vida, em que temos de abrir mão de tudo o que faz sentido.
Num gélido fim de tarde abeiraste-te de mim e abriste-me a janela da alma já há muito encerrada. Invadiste os meus pensamentos, ocupaste o vazio que me preenchia.
Sinto que te conheço, sem nunca te ter visto. Falo contigo com o brilho celeste dos meus olhos. Consigo ler o teu corpo com as mãos da imaginação.

A tentação espreita, persistente, sedutora, aos portões dos nossos dias.
Rompe as amarras onde ancoras o teu barco nu de velas e te entregas à doçura da brisa.
Deixa-te seduzir pelo apelo cálido das águas e navega neste mar de paixão.
Na nudez da tua pele apuro o erotismo de um corpo, sinto-te bem perto de mim, como o som de um poema recitado, ecoando no vazio do espaço.
Vens caminhando lentamente, ao ritmo de uma valsa de Strauss, em movimentos de prazer.
Eu, sentado, sobre a cama, na placidez de um momento, travo o tempo.
Estendo-te a cor do meu olhar como uma passadeira vermelha, que te conduz a mim, nesta caminhada de luxúria, lascívia que se funde com a ternura e a suavidade de um olhar.
E sempre que te olho, escuto uns poemas sinfónicos de Liszt, tento pensar sem pensamentos, choro sem lágrimas para chorar.

Será que desejo ser quem não sou, ou sou quem não quero ser?
Será que amo quem não devo, ou devo amar quem não amo?

Mais um dia passou sem ti, sem te ver, ouvir, sentir. Mais um dia findou, e o meu coração de negro se pintou.
Desde a génese que sei que me devo afastar, partir.
Não é possível, nem de bom agouro tentar mudar o rumo do destino.
Parti para uma jornada, na direcção do interminável. Segui no sentido do mar. Estirei as asas, como uma gaivota, e parti.
Neste voo solitário, abalei, para longe do teu calor, para longe de ti.
Quero e necessito sentir a tua ausência. Não aquela que já carrego no peito e que me arrasta pelo asfalto quente que me queima e fere a chaga aberta por me postergares a minha presença.

O vento frio, as nuvens cinzentas, a noite escura, foram os únicos companheiros da minha alma.
Quando a lassidão tomou conta do meu corpo, descansei numa ígnea apartada e exposta às intenções do tempo.
A chuva disfarçava as lágrimas que me percorriam o corpo, as ondas, imponentes, abafavam o som da minha voz quando por ti clamava.
Ali, de pé, sobre aquela rocha negra e esburacada, esqueci o tempo, como uma estátua perdida em qualquer praça da esperança do desejo de um toque dos teus dedos, para renascer para a vida.

A tua ausência esmagou a minha alma. O silêncio rasgou-me o coração.
O tempo passou. Numa noite tempestuosa, um corisco de luz letal despedaçou-me atirando-me ao mar, deixando a rocha negra vazia.
Agarrar-me-ia qualquer corda que me fosse lançada. Nenhuma alma se deve ter apercebido.
Todos os fim de tarde desde então uma gaivota vem pousar naquele rochedo.
Gente que passa olham-na solitária, que mira o horizonte, para lá do mar. Contam alguns marinheiros, que um dia, um homem que oferecia sonhos, morreu de amor numa noite de tormenta, enquanto esperava pela sua outra parte, ali, sobre aquela rocha parida nas profundezas da água do mar e sua derradeira morada.

Diz-me onde está a mão esfumada, óssea, dócil e agreste que seja a ponte de caminho que deixámos de percorrer.
Sabes? Estou cansado deste diálogo inútil de orações premeditadas.
O que no fundo eu queria, era poder parar, nascer e esperar.

sábado, 3 de abril de 2010

Uma Santa Páscoa




A música, tal como os sonhos, não me deixam morrer. Por essa razão, e à minha maneira, desejo uma Feliz Páscoa a todos os que me visitam.

Deixo-vos com uma das mais belas músicas da ópera rock (JESUS CHRIST SUPERSTAR - Gethsemane)

Obrigado