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terça-feira, 6 de abril de 2010

Naufrágio de um sonho


Existem momentos na vida, em que temos de abrir mão de tudo o que faz sentido.
Num gélido fim de tarde abeiraste-te de mim e abriste-me a janela da alma já há muito encerrada. Invadiste os meus pensamentos, ocupaste o vazio que me preenchia.
Sinto que te conheço, sem nunca te ter visto. Falo contigo com o brilho celeste dos meus olhos. Consigo ler o teu corpo com as mãos da imaginação.

A tentação espreita, persistente, sedutora, aos portões dos nossos dias.
Rompe as amarras onde ancoras o teu barco nu de velas e te entregas à doçura da brisa.
Deixa-te seduzir pelo apelo cálido das águas e navega neste mar de paixão.
Na nudez da tua pele apuro o erotismo de um corpo, sinto-te bem perto de mim, como o som de um poema recitado, ecoando no vazio do espaço.
Vens caminhando lentamente, ao ritmo de uma valsa de Strauss, em movimentos de prazer.
Eu, sentado, sobre a cama, na placidez de um momento, travo o tempo.
Estendo-te a cor do meu olhar como uma passadeira vermelha, que te conduz a mim, nesta caminhada de luxúria, lascívia que se funde com a ternura e a suavidade de um olhar.
E sempre que te olho, escuto uns poemas sinfónicos de Liszt, tento pensar sem pensamentos, choro sem lágrimas para chorar.

Será que desejo ser quem não sou, ou sou quem não quero ser?
Será que amo quem não devo, ou devo amar quem não amo?

Mais um dia passou sem ti, sem te ver, ouvir, sentir. Mais um dia findou, e o meu coração de negro se pintou.
Desde a génese que sei que me devo afastar, partir.
Não é possível, nem de bom agouro tentar mudar o rumo do destino.
Parti para uma jornada, na direcção do interminável. Segui no sentido do mar. Estirei as asas, como uma gaivota, e parti.
Neste voo solitário, abalei, para longe do teu calor, para longe de ti.
Quero e necessito sentir a tua ausência. Não aquela que já carrego no peito e que me arrasta pelo asfalto quente que me queima e fere a chaga aberta por me postergares a minha presença.

O vento frio, as nuvens cinzentas, a noite escura, foram os únicos companheiros da minha alma.
Quando a lassidão tomou conta do meu corpo, descansei numa ígnea apartada e exposta às intenções do tempo.
A chuva disfarçava as lágrimas que me percorriam o corpo, as ondas, imponentes, abafavam o som da minha voz quando por ti clamava.
Ali, de pé, sobre aquela rocha negra e esburacada, esqueci o tempo, como uma estátua perdida em qualquer praça da esperança do desejo de um toque dos teus dedos, para renascer para a vida.

A tua ausência esmagou a minha alma. O silêncio rasgou-me o coração.
O tempo passou. Numa noite tempestuosa, um corisco de luz letal despedaçou-me atirando-me ao mar, deixando a rocha negra vazia.
Agarrar-me-ia qualquer corda que me fosse lançada. Nenhuma alma se deve ter apercebido.
Todos os fim de tarde desde então uma gaivota vem pousar naquele rochedo.
Gente que passa olham-na solitária, que mira o horizonte, para lá do mar. Contam alguns marinheiros, que um dia, um homem que oferecia sonhos, morreu de amor numa noite de tormenta, enquanto esperava pela sua outra parte, ali, sobre aquela rocha parida nas profundezas da água do mar e sua derradeira morada.

Diz-me onde está a mão esfumada, óssea, dócil e agreste que seja a ponte de caminho que deixámos de percorrer.
Sabes? Estou cansado deste diálogo inútil de orações premeditadas.
O que no fundo eu queria, era poder parar, nascer e esperar.

10 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido
Lindo texto...nascer de novo e dar outro rumo à vida...não é possivel.
No teu texto fui ao fundo de mim...tanta solidão....

Beijinhos
Sonhadora

Moi disse...

Muitas vezes desejamos nascer de novo!
Belissimo texto!

Angel

DoceAroma disse...

Hoje chorei com as tuas palavras, como se me penetrassem a alma e fossem capaz de falar dos meus próprios fantasmas... talvez porque hoje esteja demasiado triste e me sinta como se tivesse cem anos. Obrigada por nos brindares com este texto magnifico. Beijo

sonho disse...

Apesar haver muitas desilusões ao longo da vida...há sempre dias de felicidade...e esses sim temos que os aproveitar ao maximo...nascer de novo pode não ser possivel...mas comecar de novo é uma solução...
beijo d'anjo

Fernando Tavares disse...

São textos como este que nos fazem reflectir na vida. Gostei bastante Parabéns

Penélope disse...

Meu querido sonhador, estas palavras mexeram tanto comigo...
Como é linda está tua forma de sentir, apesar de triste, tem tanta sensibilidade.

Também digo que sinto falta das tuas visitas lá no Infinito.

Um beijinho em teu coração

Terra de Encanto disse...

...um misto de solidão, saudade, desespero e, aparentemente de forma paradoxal (mas não, de todo...), expectante, vibrante de vida, esperança, renascimento.

Onde estás? Poderás estar num limbo, à espera dessa mão que te agarre e conduza. Mas estás, certamente, num local diferente daquele onde estavas há 1 mês, 2, 3...


Beijo amigo.

catwoman disse...

Em determinados momentos, penso que todos nós precisávamos de nascer novamente.E se precisamos fá-lo-emos, sózinhos ou acompanhados, vamos voltar a acreditar em nós próprios e a amarmo-nos para que possamos amar os outros.
Bjs.

Momentos... disse...

Era um texto perfeito para mim, em vários momentos do texto pensei que falava para mim! Como senti cada palavra! A vida tem destes momentos...

Um sorriso.

T. disse...

Como é que é possível?

Estive tanto tempo afastada que me dói a alma ao voltar.

E já tinha saudades! Desde que comecei a trabalhar, o que significa que escrevo todos os dias mas não "para mim" que a disponibilidade mental para alimentar o Segredos diminuiu... e a procura de um novo template obrigou-me a apagar os links. Mas agora estou a tentar recuperar o ritmo e repor os links.

O teu estará lá com certeza. :)

E foi tão bom ler-te... como sempre é.