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segunda-feira, 26 de julho de 2010

IDENTIDADE




Passam por mim tantos pensamentos
Que andam no espaço perdidos,
Choro dramas e tormentos
Que por mim não são vividos


Canto a vida, a alegria
De beleza no seu esplendor,
Mas sinto em mim a nostalgia
Da saudade e do amor


Perco-me num sonho impossível
Num amor inexistente
De coração ferido e sensível
Não quero viver um amor ausente


Entro nos outros, sem querer,
Leio o que sentem no fundo
E tantas vezes sem saber,
Choro em mim, a dor do mundo!


Não pedi para ser assim,
Não sei, aconteceu…
Aceito o que sou, enfim,
De outro modo não sou eu!


domingo, 18 de julho de 2010

Vem... Fala comigo




A incerteza da vida confirma-se na certeza da morte.
Todos os dias encurtamos a distância que nos separa do nosso desfecho terreno.
Mas existem dias que damos um pulo tão grande, que parecemos ter chegado à fatídica meta.
São já quatros da manha! Não consigo pregar olho, porque a morte chegou sem ser apresentada, foi apenas convidada.
Há dias em que morremos mais que outros. Em que o coração estaca, a mente estagna e a alma encrosta.
Falece a esperança, e a tristeza fica mais amarga. O assombro é de tal forma súbito que nem tempo subsiste para a extrema-unção.

Sinto a tua presença à minha volta, o teu perfume, o teu toque mágico, o teu pesaroso adeus.
Apesar de ser Julho, está uma noite fria. O vapor que expiro forma uma neblina na janela, mãos e pele arrepiadas.
Estou só, o quarto está escuro, a cama bem-feita, os lençóis imaculados e lisos.
Acendo um cigarro, sento-me na borda da cama e olho para a janela.
Já meio maço de Pall Mall estava devorado, quando dei por mim a perguntar que ruas estariam agora no teu caminho naquele momento, que pessoas novas entraram na tua vida, qual é agora a tua história.
Mas, as paredes não falam e uma janela é só uma fresta, e as ruas estão tão desertas que um cão corre de focinho no chão com medo do som do silêncio.
Saio dali para perder-me por essa senda que antes cruzávamos juntos, não sei para onde vou nem para o que vou. Simplesmente vou.
É o romper da aurora, o começo agora de um novo dia, mas eu tenho cara de noite mal dormida.
Vultos passam por mim e não me vêem, eu também não os quero ver.

O meu coração é agora um terreno baldio.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Procuro




Cai o dia nasce a noite.

Fico só… a vaguear no ilimitado labirinto do meu pensamento.

Ando a tentar aprender a não chorar por qualquer querer, por qualquer aflição entoada por uma guitarra qualquer.

Nem todas as melodias que me soam nos ouvidos são harpejos tocados nas cordas metálicas de uma genuína Stratocaster.

Ando a tentar aprender que nem tudo o que reluz é ouro, em que o lustre não passa de um reflexo adquirido.

Estou cansado de ver correr a água do rio, na fronha da minha almofada.

Estou esgotado de lutar contra moinhos de vento, que moem os grãos do sustento da minha existência, farto que me cantem rosas em dias soalheiros de esperança.

Não me ponham flores na minha alma, quando me arremessam espinhos para os olhos.

Falem-me antes da paixão das roseiras, da inocência das margaridas, do belo amor-perfeito que o é por si mesmo, da modéstia da violeta, ou do suave aroma do jasmim, enquanto o vento sacode uma oração sussurrada entre dentes, tal qual adolescente inundado de uma modesta e estonteante inocência que em tudo o que toca e olha lhe atravessa a pele ciciante.

Não falem da minha cobardia, nem das criaturas que choram a embriaguez dos seus próprios passos.

Sinto no corpo a saudade e o desejo de te amar!

E as horas vão passando, talvez rumo ao infinito. Mas estou cansado deste meu grito, da hora que não tem hora, do dia que não está escrito.

Não me rasguem nunca mais o suor da minha nudez, porque na penumbra de um olhar, somente a sombra me abraça.

Podem a partir de hoje sangrar-me a boca com trapos alagados de odores afrodisíacos de desejos contrafeitos…

Apenas e só busco a chave que possa abrir um coração que se fechou ao mundo.

Mas não me cantem rosas em dias soalheiros de uma esperança nebulosa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mar submerso em lágrimas


Foi uma estocada bem no peito que acabou com tudo e me arrancou de mim.
Um despretensioso segredo que se refugia numa caixa de bonecas, assim, sem mais, sem ninguém o imaginar.
Contemplo as brechas da alma raiadas de vermelho vivo, e espelho o olhar bem no fundo de mim enquanto o sol me vai inflamando o peito.
Agora, sangra-me o adeus nas palavras e é com odor a iodo e sal que as limpo.
Que me resta? A bússola que me norteia o resto dos dias, porque sei que o meu presente jamais terá futuro.
Talvez nada mais seja importante para além da brisa ardente do mar, do apregoar dos pássaros, e do cair do dia enquanto o sol vai declinando na linha do horizonte.
Do imenso mar de emoções que me banha corpo e alma, apenas me remanesce que sempre fui filho de um adeus e agora o Diabo me fez filho de Deus.
Mas não desisto.
Procuro-te no calor do sol, tento encontrar o teu rosto no oceano, nas dunas da praia, até nas rochas que as vagas acariciam deixando-me invadir por vezes pelo silêncio apenas quebrado pela agitada e estranha pronúncia das águas do mar.
Tento ouvir o teu riso na melodia que sempre me acompanha.
Olho as crianças no jardim e imagino-te sentada naquele banco gasto pela roçar da recordação e pela solidão de um passarinho negro poisado na árvore dos meus dias com um canto cinza de embalo que parou a meu lado.
Espero pela brisa que me traga o teu cheiro a frutos bravios. Todavia, julgo que te procurei nos sítios errados. Tentei ver-te em todos os locais onde não estás.
Mas acabei por te encontrar entranhada em mim. E como numa paisagem de Rembrandt, vou pintar os meus derradeiros dias de cinzento leve, mas sempre com um pingo de vermelho rubro de paixão.
De negro as horas incertas, perdidas num pouco de azul em tom de ilusão. Depois, aqui e ali, umas manchas verdes interpoladas feitas de retoques de esperança.
E assim, lentamente e sem arte deixo escorrer o diluente na tinta de água na tela da minha vida.