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domingo, 18 de julho de 2010

Vem... Fala comigo




A incerteza da vida confirma-se na certeza da morte.
Todos os dias encurtamos a distância que nos separa do nosso desfecho terreno.
Mas existem dias que damos um pulo tão grande, que parecemos ter chegado à fatídica meta.
São já quatros da manha! Não consigo pregar olho, porque a morte chegou sem ser apresentada, foi apenas convidada.
Há dias em que morremos mais que outros. Em que o coração estaca, a mente estagna e a alma encrosta.
Falece a esperança, e a tristeza fica mais amarga. O assombro é de tal forma súbito que nem tempo subsiste para a extrema-unção.

Sinto a tua presença à minha volta, o teu perfume, o teu toque mágico, o teu pesaroso adeus.
Apesar de ser Julho, está uma noite fria. O vapor que expiro forma uma neblina na janela, mãos e pele arrepiadas.
Estou só, o quarto está escuro, a cama bem-feita, os lençóis imaculados e lisos.
Acendo um cigarro, sento-me na borda da cama e olho para a janela.
Já meio maço de Pall Mall estava devorado, quando dei por mim a perguntar que ruas estariam agora no teu caminho naquele momento, que pessoas novas entraram na tua vida, qual é agora a tua história.
Mas, as paredes não falam e uma janela é só uma fresta, e as ruas estão tão desertas que um cão corre de focinho no chão com medo do som do silêncio.
Saio dali para perder-me por essa senda que antes cruzávamos juntos, não sei para onde vou nem para o que vou. Simplesmente vou.
É o romper da aurora, o começo agora de um novo dia, mas eu tenho cara de noite mal dormida.
Vultos passam por mim e não me vêem, eu também não os quero ver.

O meu coração é agora um terreno baldio.

1 comentários:

João Pimentel Ferreira disse...

Caro autor

Gostei muito deste texto. Revela ser sombrio, noctívago, a tanger o macabro, espirituoso e esotérico. É a noite por certo em simbiose com a lua que dão inspiração aos escritores mais excelsos.

Parabéns