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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Odeio



Odeio o imprevisto.


De repente uma tontura repentina. Perco a visão por instantes. Deixo de ouvir. Caio por terra qual baralho de cartas.

Perdi as forças nos músculos, perdi a energia da alma.

Fecho os olhos e desapareço durante alguns momentos que parecem horas.

Batem-me na cara, agitam-me violentamente, fazendo-me reaparecer em mim. Sinto um frio estranho percorrer pelo meu corpo, estremeço e acordo.

Dizem-me que desmaiei como um passarinho de asa quebrada.

Tudo o que me lembro é de algo escuro como breu, como se tivesse sido engolido por um buraco negro. E eu venero o breu da noite, porque a noite pode ser muita coisa, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, e já foi tudo isso no meu universo. Tanta incerteza que viver é ambiguidade.

E na dubiedade nocturna eu afastei-me das luzes e corri despido de roupa pelas ruas de pedra dura e fria corri a noite toda às voltas tentando evitar os caminhos dos meus receios, ambiguidades e dúvidas.

Odiei esse dia, senti que o tempo me ultrapassou sem pedir passagem.



Desde esse dia sofro e odeio o sofrimento que sinto por odiar os meus sentimentos.

Odeio em vários momentos perder o controlo da minha razão quando esta é superada pelo meu lânguido coração.

Odeio perder as rédeas dos meus pensamentos que correm livres como o vento rebelde para ilusões que só me farão sofrer.

Odeio ficar impotente perante sentimentos que avançam em mim como um vírus desenfreado que me ataca o corpo por inteiro.

Odeio frases-feitas de argamassa de moral mal misturada.

Odeio encontros ao acaso e desencontros planeados.

Odeio olhares que se cruzam no meio da multidão.

Odeio palavras de afecto e gestos de repulsa.

Odeio não gostar de mim, mesmo sabendo que sou um ser inteligível.

Odeio mudar de humor conforme as fases da lua e as agitadas marés do mar encrespado.

Odeio guardar o desassossego no bolso traseiro das calças e ter asas que me levam apenas até às nuvens.

Odeio andar ao ritmo da vida.

Odeio neste momento andar ao ritmo de decisões alheias.

A mudança é sempre complicada de gerir, mesmo que seja para melhor... ou daí, talvez não.

Odeio saber que mais uma vez irei sofrer e que nada consigo fazer para o evitar.

Odeio sofrer, odeio amar.

Odeio, nesta fase da minha vida misturar ódio e amor.



Mas o ódio e o amor são de tal forma que unhas e dentes se cravam na pele.

Esqueço-me de respirar e por isso, sinto-me meio zonzo.

As roupas há muito arrancadas. Eu atordoado, tu estonteante.

Só existe carne, lágrimas, suor, saliva e um desmesurado desejo.

Mordo-te, arranhas-me, arfo, latejas.

Estendo-me pelo comprido assim prostrado e muito nu com aquela vontade de me entregar inteiro, espalmado no esvoaçar da alma que se espalha ao sabor da brisa que me passa a cada despentear do pensamento.

A noite despida de nuvens. O vento sopra de mansinho. Será que esta brisa é a mesma que bate nos vidros da tua janela?

Queria beijar esse vento para me unir ao teu pensamento.

A noite é longa e serpenteia por mim a insónia do desejo. Canto aquela canção de embalar que minha mãe me entoava em desespero.

O sono fugira para parte incerta. Na sua busca pus-me a contar ovelhas daquelas felpudas, mas fico desperto com elas tosquiadas, escanzeladas! Tal como eu.

Sinto-te longe. Mas hoje não. Vi-te ao longe e sorriste para mim.

A lua poisou docemente no meu ombro. O luar apalpa atrevido o teu corpo, lento e refastelado.

Sem pressas invades os meus cantos quando aconchegas o teu corpo quente ao meu ardente na vontade de ti. Os meus dedos exploram lentos em toques profanos até despertar o sabor do arrepio.

Beijo-te o pescoço, o queixo e contorno os teus lábios com a língua que desce e explora o teu corpo, cada pedaço, cada canto em encanto no percurso mais insano e descubro novos sabores na curva apertada do teu corpo. O percurso é longo, mas caminho até que mordisco os teus seios tumefactos de excitação.



Já viste algo mais bonito do que dois amantes feitos de ódio que se apaixonam?

3 comentários:

Syp Aragao disse...

CENTELHA

Nascer.
Leis deste mundo.
Regras invertidas.

Sopro.
Vaso quebrado.
Limites da mente.

Dias.
Renascer.
Noites.

Nascer.
Passagem.
Viver.

Respirar.
Parar.
Mudar.
Mundo.

Nova.
Centelha da vida.
Refazer.
Regras.
Limites.


Adorei seus poemas me visite em:

http://recheioparamente.blogspot.com/

elsagnes disse...

...odeio não saber odiar...

elle disse...

hoje mais do que nunca queria saber odiar...