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segunda-feira, 4 de março de 2013

Não sei se foi por vontade de Deus…





Não sei se as palavras que quero empregar têm o vigor que necessito que tenham, mesmo que não passem de sombras no segredo da maioria das noites em que o meu corpo se recusa a dormir.

Não sei a cor do tempo que me arrisco a perder, não sei se uma palavra ou um gesto poderão mudar tudo.

Hoje, não consigo ver amor em nenhum lugar ou rosto, apenas indiferença e um género de ódio ou talvez rancor.

Hoje não consigo pintar um sorriso no rosto de uma criança nem inventar uma cinematográfica e arrebatadora paixão.

Hoje, estou cansado de ti…

Hoje, estou farto de mim…

Hoje, não passo de uma morte por cumprir...

Hoje falta-me a força para morrer…

Não sei se estar só é estar ausente do corpo que mora num espaço repleto de multidão.

Não sei se solidão é escrever à flor da pele, rodeado de memórias e títulos de lombadas já gastas, acompanhado apenas de uma música amena para não acordar quem dorme.

Não sei se estar só é espremer ao máximo os gritos que apetece atirar até os ecos morrerem na neblina do Tejo.

Não sei se solidão é esquecer o agrilhoamento da porcaria que envolve o mundo como se esquecesse de que é nele que se pagam todas as injustiças.

Não sei se estar só é a vontade de sair de mim e gritar de pulmão descerrado que acima das misérias, existe ainda a gratidão; e que bastava que ela fosse partilhada na reciprocidade para nos sabermos acompanhados.

Não sei se a solidão é a impossibilidade de respondermos sim ao que nos pedem.

Não sei se estar só é ser-se mal-amado.

Não sei se solidão é não ter sono e escutar todos os espectros dos ínfimos ruídos na rua.

Não sei se estar só é lembrarmo-nos quem somos e o que fazemos.

Não sei se solidão é viver perdido entre muita gente e rodeado de uma permanente ansiedade.

Não sei se estar só, foi por vontade de Deus…

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sonho a dois ou dois sonhos?



Algo denso, escuro e peganhoso escorre nas paredes do meu quarto. Acumula-se de baixo para cima, espessando as paredes que incham na direção uma da outra. Senti ainda meio-anestesiado pela insónia da noite o calor da chuva…
Sentei-me na cama asfixiado com o ar pesado que sentia entrar dentro de mim e me embaraçava a respiração.
Levantei-me sem contar os passos e o chão deixava-se pisar sem me arrefecer os pés. Sem uma brisa que me arrepiasse a pele fina das costas.
Uma estrofe de “Velvet Morning” dos “The Verve” era audível do outro lado da janela.
Tentei estalar os ossos do corpo abrindo os braços e a boca num vigoroso mas infrutífero bocejo.
 
“And now I'm trying to tell you
About my life
And my tongue is twisted
And more dead than alive
And my feelings
They've always been betrayed
And I was born a little damaged man
And look what they made”
 
A melodia zumbia-me nos ouvidos. Tentei traduzir mas as palavras eram bem mais rápidas que meu raciocínio. Apenas consegui reter que, “… E eu nasci um pequeno e estragado homem…”.
Pequeno não sou, avariado um pouco. Mas uma desarranjo que não tem solução.
Deixem-me ser louco e sonhador. Enquanto sonho o meu sangue alimenta-se o meu corpo cresce a minha mente vagueia por cantos nunca percorridos. Era manhã.
Uma manhã de agosto brotou num pranto compulsivo. Berrava lá fora, mas nem um sopro se sentia.
Não há cheiro que me desnude como o da terra molhada num raiar de verão. Despe-me e dança-me na pele em arabescos de sal que lá se esconde. Lamber-me-ia sem vergonha salgando os lábios e a língua numa salmoura de enleio e desejo.
São estes pequenos momentos de paz, enrolada na brisa que enalteço. São estes silêncios e músicas eternas que me seduzem. É a meia-luz quente cá dentro e a luz azul meio extinta pela janela que me enfeitiça.
Fecho as mãos antes que a sensação se apague, que fuja para longe.
Fui até à janela e encostei a testa no vidro azul-escuro de céu. Olhei fixamente as lágrimas que choravam no vidro. Escorriam sem caminho definido porque o vento contrariava a gravidade em andamentos musicais uivados, assobiados, fazendo dançar a água. Nem na testa senti o frio daquela húmida manhã estival.
Encostei a bochecha, depois o peito ainda arquejante na busca do ar fino. Nem no peito senti o vidro. Mas chovia lá fora. Quis tocar no vidro choroso. Estendi os dedos e acompanhei de modo demente o descer descompassado de uma gota gorda, que logo se misturou com outra e me caiu no dedo. Não percebi se estava do lado de cá ou se a minha mão teria trespassado o vidro. O que mais me incomodou foi não sentir aquela gota. Certamente deveria ser fria, deveria ser molhada, mas se não a visse cair no dedo que atravessara a janela, não a saberia caída na ponta do dedo. Olhei-a mais de perto. Partículas minúsculas baloiçavam numa oscilação imaginária. Uma mulher dormia quieta, coberta por um lençol branco. Distinguia-se com a luz crua do sol matinal uma perna desnuda estendida. O corpo pequeno, enrolado, cabelos espalhados na almofada e o subir e descer ritmado de um sono franco. Era bonita, aquela mulher, porque e somente era vulgar.
Vi a sua camisa enrugar-se, ajustar-se-lhe ao contorno que era seu, com o peso da água. Vi-a agitar-se no vento que lhe roubava os cabelos, como chicotes húmidos.
Fechei os olhos e ouvi o segredar da tempestade.
Uma rajada de vento sugou-a, arrancou-a da suspensão com uma sacudidela e desapareceu, como uma pequena folha de árvore. Para sempre!
Eu desiludido e dormente voltei a deitar-me. Não queria mais viver aquela manhã de chuva.
Desliguei o interruptor do candeeiro e o botão da máquina que me mantinha a respirar.
 

 
 

Uns anos antes, ali, como quem desce o rio, duas ruas à esquerda, depois da viela adormecida nas luzes de uma porta, contam-se três candeeiros depois do início do quarteirão. Era perto do castelo dos touros. Munido de grades fechadas, emolduradas de uma velha madeira castanha escura.
Ali, onde se espalham quentes no gelo do ar os laranjas, os verdes e os brancos dos prédios e dos seus recantos.
Ali onde a chuva pica na cara de tão fresca e se abocanham os beiços húmidos para depois os deixar cantar com a senhora de voz cansada mas com trinado certo num labirinto de azulejos sujos da estação do metro.
Ali, onde os telhados descobrem cortinas brancas e o recorte de mulheres nuas em contraluz como sílabas afuniladas.
Ali, onde as sombras do rio são nenúfares azuis que sabem a geleia de morango e riem com os sinos da sé.
Com os pés doridos mas satisfeitos, chego perto das rochas esculpidas pela força das marés. Uma delas assemelhava-se a um rosto triste.
Ali, certamente em alguma poça, ela mergulhava o pente desdentado e alisava o cabelo à força de saliva. Empurrava-o, prensava-o de mãos decididas para que no espelho de águas turvas e folhas secas pudesse acreditava ser ali o seu lugar.
Com o ventre em náuseas irrequietas ajustava a justa saia preta no caminho da igreja.
Benzia-se à entrada e sentava-se na última fila de bancos corridos com medo de ser observada tal somo sempre fizera na escola.
Quando se ajoelhava para rezar os pecados que criara, espiava com o sobrolho franzido, as emoções sempre iguais. Os ciumentos, os jocosos, os beatos, os orgulhosos, os divertidos, os ansiosos, os enfastiados.
Ela mantinha-se à distância de cheiros azedos e sussurros ininteligíveis. Falava consigo, à flor da pele.
Esperava pelo branco que lhe turvasse os olhos e os farrapos em cintilantes gotas de fantasia.
Os fantasmas chegavam, um a um. Desfilavam pelo corredor de tapete vermelho. Ouvia a música de outras vidas. Diluía-se no ritmo badalado no seu peito, inundado de recordações. Levantava o pescoço e fechava com força os dedos nas tábuas gastas como quem pretende agarrar-se à vida obsoleta e degasta.
Os seus passos já não faziam eco no chão frio e desolado do altar. Seria ela um fantasma?
Na sua mente nada parecia autêntico. Queria seguir o seu desejo, sem ambição. Colocava no rosto cansado, um semblante nublado que só ela reconhecia entre a cal das paredes, os santinhos do altar, os azulejos e os vitrais do teto. No seu desfile delicado nem o soçobrar dos folhos murchos conseguia penetrar a redoma da sua verdade. Embrulhava-se no véu de odor forte das velas, da cera derretida de tanta promessa, dos pedidos e das vãs esperanças, que perscrutava de olhar indiferente.
As promessas já tinham morrido e os infelizes ainda não sabiam.
Voltava a mirar a chama que tremia das velas. A trepidação provocada pela quentura provocava-lhe um desfalecimento das pernas. Sem pestanejar, para que nada pudesse escapar sentava-se pudicamente de joelhos juntos e olhos brilhantes, atenta à homilia.
Sussurrava de cor as juras lá do fundo de si. Eu a ti, tu a mim.
Pertenço-te e és meu.
Esmagava mais um pouco o ramo morto na ansiedade do beijo, o beijo no vácuo. O mesmo vácuo das noites de núpcias que lhe rasgava as veias em sonos ausentes. Depois o mutismo. De soluços num silêncio esmagador, engolia de raiva o grito e um nome quando a trovoada de sons e arroz a deixava em paz, os ecos abrandavam e as aleluias cessavam.
Olhava por cima do ombro e contava os anos não vividos. Tirava o lenço bordado da manga e limpava os olhos.
Sim, porque uma noiva não pode esborratar o rímel.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ensaio do Feminino



"Olho tanto, tanto o corpo de uma poesia. que perco de vista as estrofes do poema e vejo o corpo frisado de uma mulher"


JC

 
 
 

Talvez seja na beirada de um sonho que o mundo acabe. Não sei. Talvez não acabe mesmo mas se torne noutra coisa, como quando a gente fecha os olhos e descobre uma esquina no canto das pálpebras de uns olhos inertes.
Eu queria, sim, voltar ao tempo em que ria à gargalhada contigo no meio da rua, te convidava para um café num dia frio e adocicado, tão doce como aquele dia em que te penetrei os olhos de um amor desconhecido. Eu gostava que voltasse a chover flores, das quais eu ainda guardo algumas pétalas entre as páginas do livro que pretendia escrever sobre a mais linda história.
Foi lindo, doce e reconfortante. O livro, eu ainda não tive coragem para o começar. A minha história, não pára no tempo. Percorri o encantamento da Pré-história, o ardor da Idade do Bronze, a paixão da Idade do Ferro. No presente vivo a tristeza da desilusão.
Hoje, ou foi ontem? Talvez há mais tempo… Entendi que não eras tu. Eu fui tão “eu”, que não me deixei ser outro.
Tu… Não passaste de uma utopia no âmago do meu peito carente que foi encantado pela brandura das tuas palavras.
Um solitário e ferido coração que se deixou amarrar pelo visgo do teu enorme olhar, penetrante, como a cor da noite.
Apenas foste a expectativa dos meus anseios. Alimentaste o meu ego de falsas promessas. Mas, desejei ser tão responsável que me perdi o de mim.
A mulher que tanto amei foi a ilusão dos meus devaneios que o meu peito deixou em liberdade.
A mulher que eu amei apenas existiu dentro do meu querer, porque eu a via através de uma janela de vidro colorido que se partiu.
Quebrou-se o encanto, a magia. Partiu a mulher que eu amei.
Obrigo-me a acordar, porque não consigo saber quantas horas durmo com a saudade.
Já desisti de lutar contra moinhos de vento tal Miguel Cervantes que sabia que, “Faz parte da natureza das mulheres desprezar quem as ama e amar quem as detesta.”
Diversas vezes dou por mim a olhar fixamente o nada. Os meus olhos fixam o que não existe, enquanto a mente essa fixa-se num determinado pensamento que me invade e me transforma o carácter, o meu próprio EU!
Mas estou neste momento a divagar sem rumo como um bote de redenção sem remos. Afasto-me da margem dos meus objectivos e deixo-me ir na espuma das ondas que me invadem a incerteza.
Interrogo-me bastantes vezes que talvez tenha amado uma mulher comum, e amei em grande parte porque me assustam as mulheres sofisticadas e as coisas raras que desaparecem com a mesma velocidade com que despontam e nos deixam com aqueles ecos vazios na memória atónita.
Os meus dedos não conhecem sossego, a minha pele nunca está intacta, eu nunca estou intacto e, de facto, quem está?
É inacreditável como necessitamos tanto de carinho. Apenas lhe sentimos a falta quando o desespero do só nos enforca. Acreditem que este sentimento é o pior de todos. E, apenas nos fazemos fortes através daqueles que nos enfraquecem. E são justamente estes que somem de nossas vidas e nos deixam a mercê da autopiedade!
O mundo, todos sabem é cruel, mas Bob Marley disse um dia que A vida é cruel. Mas as mulheres, quando querem, são mais.”
O mundo mudou, as mentes alteraram-se, os sentimentos transformaram-se e eu amei a mais banal das mulheres embora todas as suas trivialidades me fizessem sentir igualmente um homem idêntico, mas extraordinariamente comum como nunca houve outro.
Pensei estar no meu melhor. Mas, o meu melhor foi o que veio depois, de rasgar a carne quando num acesso de fúria espantei das vértebras as falsas virtudes que, como traças, me roíam os traços mais reais.
Falei em vértebras e por sincronismo amaldiçoei com todas as minhas forças Eva. A primeira mulher a forçar um homem ao pecado. E como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”
Sei que esta vida não é mais que ficção em que a verdade se esconde num canto inviolável da humanidade que nos cumprimenta de forma achincalhante diante do espelho quando esquecemos a porta aberta de casa e do nosso coração.
E são tantas as vezes que deixamos a porta entreaberta que o nosso sangue é atingido por amor e ódio.
Duas palavras tão distintas e tão comoventemente parecidas. Não para mim, que nada sei, mas se pensarmos no método socrático, já antes de Cristo o filósofo sabia que se deve temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem.
O tempo é implacável. Anoitece devagar. Anoitece sobre meu corpo. A penumbra invade-me a mente e corrói tudo o que é sólido. Escurece o amor com o passar do tempo. O que restava da memória começa a eterizar-se. Se morresse agora não deixava nada, porque bebi toda a minha sede.
É uma dor estranha. Morrer de saudade por algo que nunca se chegará a viver. Com o galgar do tempo adquirimos cabelos brancos e deixamos a esperança partir para local incerto.
Recordo as palavras de Madame Émile Girardin, “As mulheres só perdoam depois de terem castigado.” E que condenado fui meu Deus. A flagelação tem coisas curiosas. Sofremos como que uma metamorfose que nos leva a deambular por trilhos perigosos e minados como um campo de batalha. Foi por ti e contigo que começou este gostar que nunca perdi. É por ti que continuo esta viagem até à próxima estação, mesmo sabendo que não vais lá estar a aguardar-me feliz na chegada.
Amor!
Mas também não há sitio nenhum no mundo onde esteja escrito que o amor tenha que ser justo ou condescendente com toda a gente que acredita nele.
Mulher! Ser complexo e enigmático de uma beleza estonteante.
Mulher! Ser da razão do meu viver. És como um vulcão em erupção que inundas o coração distraído de um homem desatento.
Confesso que para mim, o ser mais fascinante que a Natureza algum dia criou. Encantadora e temerária. Ancestralmente considerada como “sexo fraco”, a mulher predomina e é abelha-mestra da cadeia alimentar do ser humano.
Obstinada e possuidora de um raciocínio pujante e intrincado, obtém o triunfo sempre que queira.
Sei que nem todas são iguais. Apesar de geradas da mesma costela de Adão, cada uma apresenta e arroja com as suas peculiaridades.
Nós, homens apreciamos o jogo e adoramos o perigo. Que tolos que somos. “O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso.” Dizia Friedrich Nietzsche.
Estaria o filósofo certo? Não sei! O que me parece é que todas sintonizam uma frequência ultra-sónica apenas perceptível por algumas espécies que não o homem comum.
Existem duas espécies distintas: as bondosas e as malévolas. As más verdade seja dito, não significa de todo que sejam mulheres perversas. Têm uma missão fundamental, de não serem as boazinhas das histórias. Cargo árduo e fascinante. De tal forma atraente que quem as conhecer jamais as esquecerá. Estas mulheres não cedem, mas concedem. Não existem, mas vivem entre nós. Não duvidam do homem, mas como num jogo de póquer, pagam para ver.
Este tipo de mulher não fala, faz-se ouvir, embora o silêncio seja seu apanágio.
Mulheres más não são do tipo que só diz “sim”. São más justamente pela empírica maestria em proferir um “não”. Seja ele dito sob tempestades e trovoadas ou com a suavidade de uma flauta de Bisel.
Jamais de forma alguma se desaprazam a si mesmas para agradar aos outros. Não aparentam porque são persuasivas, sedutoras, misteriosas, encantadora e indiscutivelmente feiticeiras.
Mulheres más não fogem à luta; matam se necessário um leão por dia. São gigantes pela própria natureza disfarçadas de criaturas frágeis e delicadas, o impávido colosso sob a doce aparência de progenitora gentil.
Sofrem, choram, desesperam, mas, ao contrário das boazinhas, num piscar de olhos lá estão elas a renascer das próprias cinzas. Amadas ou odiadas, o facto é que não se fica indiferente a esta mulher.
Mulheres más nascem e morrem como todas as outras porém, de forma um pouco diferente. Estendem as suas sementes ao longo do caminho que existe entre nascer e morrer. São mães, filhas, esposas, senhoras, meninas, pobres, ricas, letradas, ignorantes, brancas, negras, amarelas, ou de outra cor qualquer.
São mulheres más não pelo que lhes vai no coração, que é de ouro; mas sim pela audácia em desafiar os pobres tolos que insistem na vã tarefa de lhes tentar minar as forças, tirar o brilho, negar o valor por necessitarem de tanto amar.
Mulheres más talvez não saibam qual o caminho que conduz ao céu. Mas o da felicidade, seguramente, elas conhecem.
As benévolas sintonizam ainda em ondas de maior amplitude. São aquelas que de rosto entediado pensam e repensam “será que ele me ama?”
As mulheres bondosas não acreditam em nós, homens. Ainda menos no nosso amor.
Quando tem certeza dele, param de nos amar. A mulher boa precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres têm uma queda pela corja. O infame é mais amado que o homem idêntico.
Pode sofrer com o pulha, mas isso engrandece o seu ego, pois ela tem uma missão amorosa. Pretende na sua presunção que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.
O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim. Pragmático? Elas que o digam.
Dizem que todas possuem um sexto sentido. Eu acrescento que possuem igualmente um sétimo órgão, um "ponto g" da alma. Penoso de alcançar…
A mulher pode amar para toda a vida aquele vagabundo que não merece ou deixar de amar repentinamente um sujeito devoto e honesto.
Oscar Wilde disse um dia que “No amor todos os caminhos acabam de forma igual - desilusão.”
As mulheres passaram a não acreditar nos homens, nem no sonho do príncipe encantado.
Mas acreditem, eles existem, não montados num cavalo branco mas aparelhados de tal forma que dormem e acordam pensando em vocês cogitando uma forma de vos fazer vocês felizes por mais uns dias, ponderando em arrancar um simples sorriso.
Algumas, infelizmente não têm o príncipe encantado porque na sua fome de aventura, escolheram ao bobo da corte por ser mais bonitinho e engraçado.
Mulheres boas ou más não ofertam amizade.
Nada mais terrível que a mulher que cessa de amar. Transforma-nos a nós homens num corpo vazio, sem órgãos.
Mas mulheres, jamais esqueçam o que diz um provérbio Árabe, “A árvore quando está sendo cortada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.”
Todas elas deviam pensar que ambos somos árvores, porque se pensarmos com clareza existe uma espécie que não é boa nem má. É a mais perigosa. Astutamente encoberta, como uma árabe e a sua Hijab, esconde a verdadeira identidade. Rasteja como uma serpente sinuosa sempre na defensiva, mas atenta ao ataque.
Será verídica? Ou falsidade?
A mais autêntica e atraente manifestação feminina é o fingimento.
A mulher finge que é alta no pedestal dos saltos dos seus sapatos. Que o seu rosto é sempre belo pela maquilhagem que emprega como um quadro de natureza morta de uma aguarela. Ostenta um corpo aromático pelo perfume e bem torneado pelas calças justas ou saia curta. Simula seios opulentos com silicone, ou colocando um sutiã milagroso que se encontra em qualquer loja de chineses.
É a mulher sonsa, pudica que percorre a vida como um carrossel que gira sem parar. Sobe e desce, vai e volta. Cria-nos novos sonhos e expectativas!
Embriaga-se pelo amor que lhe provocam, e derrama lágrimas de saudade por quem esqueceu.  
"A mulher é astuta e mentirosa, por ser fraca e oprimida; e a astúcia é a força de quem não é forte." Paolo Mantegazza.
Mas como a mulher, também eu tenho dias que morro de dor, de alegria, de tristeza, de fome, de sede, de raiva, de felicidade, de tédio, de calor, de frio, de rir, de saudades... Morro de tudo um pouco… Vou morrendo…
Mas mesmo acabando sei que fui alguém que se importou com alguns e fui insensível com outros, inclusive comigo!
Fui tudo e não fui nada. Fui tão amigável que não tive amigos verdadeiros. Fui tão calado que feri os ouvidos e os sentimentos alheios. Fui tão conversador que não ouvi chamarem por mim. Fui tão criança que esqueci de ser homem. Fui tão homem que esqueci a criança que sempre viveu em mim.
Fui tão humano que esqueci de ser santo e pediria perdão se soubesse que seria absolvido!
Fui tão sorridente que escondi as minhas melancólicas tristezas. Fui sempre tão triste que gastei todos os meus sorrisos para disfarçar.
Eu fui muitas coisas! Fui até o que não queria ser!
Eu fui... Agora já não sou mais!
Agora sou apenas pensamento, tristeza, saudade e dor.
Uma dor de saudade pela tristeza do meu pensamento de ti, mulher!
Apesar de se dizer que a mulher nasceu para amar e não para compreender, eu queria, sim, voltar ao tempo em que ria à gargalhada contigo no meio da rua, como um imberbe tonto.
Queria voltar a convidar- te para um café num dia frio e adocicado, tão doce como aquele dia em que te penetrei os olhos de um amor anónimo. Queria que continuasse a chover jasmim em torrente, para neste momento separar os capítulos da vida que residi no coração de uma mulher qualquer. Uma mulher que me incitou a escrever as páginas de um livro sobre a mais linda história que espero um dia vir a concluir, se o mundo não acabar na beirada de um sonho inacabado.
 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O distante grito do dia em que o vento soprou sem cor





Grita
Solta o teu grito amarrado no teu peito ofegado do nada
Grita
Se quiseres pedir ao sol que ilumine a tua sombra
Grita
Quando quiseres soltar as ondas do vazio do mar morto sem ondas
Grita
Para escutares a melodia de um olhar desafinado como a voz que te persegue


Dedilha as cordas dos versos de amor, sem amarras, sem afectos
Pede ao vento que os sopre sobre mim para que me desuna do desespero
Ordena ao vento que espalhe o odor da saudade da trova que passa pelo meu peito nu sem perfume


Sou como uma velha catedral exposta ao mundo
Com varandas cheias de frinchas a olhar o céu
Com furtivas e negras caves que arrepiam
E quartos ocultos com paredes secretas que segredam medos e sustos

Pergunto, e eu onde estou?
Hoje dói-me a cor, dói-me o gesto de mim
Onde estou?
Alguém me ouve?
Alguém me responde?
Consegues ouvir-me?
Estou aqui, no meio do tempo do teu relógio imaginário, sentado no ponteiro dos minutos esperando por filar o da hora certa
Consegues sentir-me?
Estou em todos os lugares, e em nenhures. Procuro-te onde não estás e danço no esconderijo onde guardámos os nossos sentidos.


Partiste
Levando aquele amor que não te dei,
As promessas que não cumpri.
As fantasias que não sonhei,
A vida que não vivi.


Partiste,
E apesar de levares tão pouco,
Deixaste-me completamente vazio,
Tal como sou
Um morto que jamais renascerá ao bater de uma asa
Que sacode o silêncio frio, tão gélido como o grito do vento que tombou do céu
No dia em que te conheci.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Parto sem dor (2)



Hoje quero parir para ti minha mãe, uma linda poesia
Uns versos belos como a lua que me inspira
Hoje quero parir uma poesia
Que recito como a brisa da manhã
Como uma aragem que sopra no meu corpo nu de menino
Hoje quero parir uma poesia
Que grite o meu amor por ti
Um amor de silêncio que sempre vivi
Hoje quero parir uma poesia
Que te declare o quanto te amo
Desde o momento que nasci
Hoje quero parir uma poesia
Desde esse dia que cresci
Que me fiz homem de um pedaço de ti
Hoje quero parir uma poesia
Para chorar ao ver-te nessa cama deitada
Sem instigares um suspiro
Hoje quero parir uma poesia
Que descreva o teu doce sorriso
Que conte o teu adoçado olhar
Hoje quero parir uma poesia
Que possa voar num parto condor
Para que possa nascer de um parto sem dor.


Obrigado mãe! Amo-te
Feliz Aniversário
10 Abril 2012