Talvez seja na beirada de um
sonho que o mundo acabe. Não sei. Talvez não acabe mesmo mas se torne noutra
coisa, como quando a gente fecha os olhos e descobre uma esquina no canto das
pálpebras de uns olhos inertes.
Eu queria, sim, voltar ao
tempo em que ria à gargalhada contigo no meio da rua, te convidava para um café
num dia frio e adocicado, tão doce como aquele dia em que te penetrei os olhos
de um amor desconhecido. Eu gostava que voltasse a chover flores, das quais eu
ainda guardo algumas pétalas entre as páginas do livro que pretendia escrever
sobre a mais linda história.
Foi lindo, doce e
reconfortante. O livro, eu ainda não tive coragem para o começar. A minha história,
não pára no tempo. Percorri o encantamento da Pré-história, o ardor da Idade do
Bronze, a paixão da Idade do Ferro. No presente vivo a tristeza da desilusão.
Hoje, ou foi ontem? Talvez há
mais tempo… Entendi que não eras tu. Eu fui tão “eu”, que não me deixei ser
outro.
Tu… Não passaste de uma
utopia no âmago do meu peito carente que foi encantado pela brandura das tuas
palavras.
Um solitário e ferido
coração que se deixou amarrar pelo visgo do teu enorme olhar, penetrante, como
a cor da noite.
Apenas foste a expectativa
dos meus anseios. Alimentaste o meu ego de falsas promessas. Mas, desejei ser
tão responsável que me perdi o de mim.
A mulher que tanto amei foi
a ilusão dos meus devaneios que o meu peito deixou em liberdade.
A mulher que eu amei apenas
existiu dentro do meu querer, porque eu a via através de uma janela de vidro
colorido que se partiu.
Quebrou-se o encanto, a
magia. Partiu a mulher que eu amei.
Obrigo-me a acordar, porque
não consigo saber quantas horas durmo com a saudade.
Já desisti de lutar contra
moinhos de vento tal Miguel Cervantes que sabia que, “Faz parte da
natureza das mulheres desprezar quem as ama e amar quem as detesta.”
Diversas vezes dou por mim
a olhar fixamente o nada. Os meus olhos fixam o que não existe, enquanto a
mente essa fixa-se num determinado pensamento que me invade e me transforma o
carácter, o meu próprio EU!
Mas estou neste momento a
divagar sem rumo como um bote de redenção sem remos. Afasto-me da margem dos
meus objectivos e deixo-me ir na espuma das ondas que me invadem a incerteza.
Interrogo-me bastantes
vezes que talvez tenha amado uma mulher comum, e amei em grande parte porque me
assustam as mulheres sofisticadas e as coisas raras que desaparecem com a mesma
velocidade com que despontam e nos deixam com aqueles ecos vazios na memória
atónita.
Os meus dedos não conhecem
sossego, a minha pele nunca está intacta, eu nunca estou intacto e, de facto,
quem está?
É inacreditável como
necessitamos tanto de carinho. Apenas lhe sentimos a falta quando o desespero
do só nos enforca. Acreditem que este sentimento é o pior de todos. E, apenas
nos fazemos fortes através daqueles que nos enfraquecem. E são justamente estes
que somem de nossas vidas e nos deixam a mercê da autopiedade!
O mundo, todos sabem é
cruel, mas Bob Marley disse um dia que “A vida é cruel. Mas as mulheres, quando querem, são mais.”
O mundo mudou, as mentes
alteraram-se, os sentimentos transformaram-se e eu amei a mais banal das
mulheres embora todas as suas trivialidades me fizessem sentir igualmente um homem
idêntico, mas extraordinariamente comum como nunca houve outro.
Pensei estar no meu melhor.
Mas, o meu melhor foi o que veio depois, de rasgar a carne quando num acesso de
fúria espantei das vértebras as falsas virtudes que, como traças, me roíam os
traços mais reais.
Falei em vértebras e por
sincronismo amaldiçoei com todas as minhas forças Eva. A primeira mulher a
forçar um homem ao pecado. E como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “Os
homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a
fazer.”
Sei que esta vida não é
mais que ficção em que a verdade se esconde num canto inviolável da humanidade
que nos cumprimenta de forma achincalhante diante do espelho quando esquecemos
a porta aberta de casa e do nosso coração.
E são tantas as vezes que
deixamos a porta entreaberta que o nosso sangue é atingido por amor e ódio.
Duas palavras tão distintas
e tão comoventemente parecidas. Não para mim, que nada sei, mas se pensarmos no
método socrático, já antes de Cristo o filósofo sabia que se deve temer mais o amor
de uma mulher, do que o ódio de um homem.
O tempo é implacável. Anoitece devagar. Anoitece sobre meu corpo. A
penumbra invade-me a mente e corrói tudo o que é sólido. Escurece o amor com o
passar do tempo. O que restava da memória começa a eterizar-se. Se morresse
agora não deixava nada, porque bebi toda a minha sede.
É uma dor estranha. Morrer
de saudade por algo que nunca se chegará a viver. Com o galgar do tempo
adquirimos cabelos brancos e deixamos a esperança partir para local incerto.
Recordo as palavras de Madame Émile
Girardin, “As mulheres só perdoam depois de terem castigado.” E que condenado
fui meu Deus. A flagelação tem coisas curiosas. Sofremos como que uma
metamorfose que nos leva a deambular por trilhos perigosos e minados como um
campo de batalha. Foi por ti e contigo que começou este gostar que nunca perdi.
É por ti que continuo esta viagem até à próxima estação, mesmo sabendo que não
vais lá estar a aguardar-me feliz na chegada.
Amor!
Mas também não há sitio
nenhum no mundo onde esteja escrito que o amor tenha que ser justo ou
condescendente com toda a gente que acredita nele.
Mulher! Ser complexo e enigmático
de uma beleza estonteante.
Mulher! Ser da razão do meu viver.
És como um vulcão em erupção que inundas o coração distraído de um homem
desatento.
Confesso que para mim, o
ser mais fascinante que a Natureza algum dia criou. Encantadora e temerária. Ancestralmente
considerada como “sexo fraco”, a mulher predomina e é abelha-mestra da cadeia
alimentar do ser humano.
Obstinada e possuidora de
um raciocínio pujante e intrincado, obtém o triunfo sempre que queira.
Sei que nem todas são
iguais. Apesar de geradas da mesma costela de Adão, cada uma apresenta e arroja
com as suas peculiaridades.
Nós, homens apreciamos o
jogo e adoramos o perigo. Que tolos que somos. “O verdadeiro homem quer duas
coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso.” Dizia Friedrich
Nietzsche.
Estaria o filósofo certo?
Não sei! O que me parece é que todas sintonizam uma frequência ultra-sónica
apenas perceptível por algumas espécies que não o homem comum.
Existem duas espécies
distintas: as bondosas e as malévolas. As más verdade seja dito, não significa
de todo que sejam mulheres perversas. Têm uma missão fundamental, de não serem
as boazinhas das histórias. Cargo árduo e fascinante. De tal forma atraente que
quem as conhecer jamais as esquecerá. Estas mulheres não cedem, mas concedem.
Não existem, mas vivem entre nós. Não duvidam do homem, mas como num jogo de
póquer, pagam para ver.
Este tipo de mulher não
fala, faz-se ouvir, embora o silêncio seja seu apanágio.
Mulheres más não são do
tipo que só diz “sim”. São más justamente pela empírica maestria em proferir um
“não”. Seja ele dito sob tempestades e trovoadas ou com a suavidade de uma
flauta de Bisel.
Jamais de forma alguma se desaprazam
a si mesmas para agradar aos outros. Não aparentam porque são persuasivas,
sedutoras, misteriosas, encantadora e indiscutivelmente feiticeiras.
Mulheres más não fogem à
luta; matam se necessário um leão por dia. São gigantes pela própria natureza
disfarçadas de criaturas frágeis e delicadas, o impávido colosso sob a doce
aparência de progenitora gentil.
Sofrem, choram, desesperam,
mas, ao contrário das boazinhas, num piscar de olhos lá estão elas a renascer
das próprias cinzas. Amadas ou odiadas, o facto é que não se fica indiferente a
esta mulher.
Mulheres más nascem e
morrem como todas as outras porém, de forma um pouco diferente. Estendem as suas
sementes ao longo do caminho que existe entre nascer e morrer. São mães,
filhas, esposas, senhoras, meninas, pobres, ricas, letradas, ignorantes,
brancas, negras, amarelas, ou de outra cor qualquer.
São mulheres más não pelo
que lhes vai no coração, que é de ouro; mas sim pela audácia em desafiar os
pobres tolos que insistem na vã tarefa de lhes tentar minar as forças, tirar o
brilho, negar o valor por necessitarem de tanto amar.
Mulheres más talvez não
saibam qual o caminho que conduz ao céu. Mas o da felicidade, seguramente, elas
conhecem.
As benévolas sintonizam
ainda em ondas de maior amplitude. São aquelas que de rosto entediado pensam e
repensam “será que ele me ama?”
As mulheres bondosas não
acreditam em nós, homens. Ainda menos no nosso amor.
Quando tem certeza dele, param
de nos amar. A mulher boa precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres
têm uma queda pela corja. O infame é mais amado que o homem idêntico.
Pode sofrer com o pulha,
mas isso engrandece o seu ego, pois ela tem uma missão amorosa. Pretende na sua
presunção que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher
pensa por metáforas.
O homem por metonímias.
Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se
montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio,
meio e fim. Pragmático? Elas que o digam.
Dizem que todas possuem um
sexto sentido. Eu acrescento que possuem igualmente um sétimo órgão, um "ponto
g" da alma. Penoso de alcançar…
A mulher pode amar para
toda a vida aquele vagabundo que não merece ou deixar de amar repentinamente um
sujeito devoto e honesto.
Oscar Wilde disse um dia que “No amor todos os caminhos acabam de forma igual -
desilusão.”
As mulheres passaram a não
acreditar nos homens, nem no sonho do príncipe encantado.
Mas acreditem, eles
existem, não montados num cavalo branco mas aparelhados de tal forma que dormem
e acordam pensando em vocês cogitando uma forma de vos fazer vocês felizes por
mais uns dias, ponderando em arrancar um simples sorriso.
Algumas, infelizmente não
têm o príncipe encantado porque na sua fome de aventura, escolheram ao bobo da
corte por ser mais bonitinho e engraçado.
Mulheres boas ou más não
ofertam amizade.
Nada mais terrível que a
mulher que cessa de amar. Transforma-nos a nós homens num corpo vazio, sem
órgãos.
Mas mulheres, jamais
esqueçam o que diz um provérbio Árabe, “A árvore quando está sendo cortada observa com
tristeza que o cabo do machado é de madeira.”
Todas elas deviam pensar
que ambos somos árvores, porque se pensarmos com clareza existe uma espécie que
não é boa nem má. É a mais perigosa. Astutamente encoberta, como uma árabe e a
sua Hijab, esconde a verdadeira identidade. Rasteja como uma serpente sinuosa
sempre na defensiva, mas atenta ao ataque.
Será verídica? Ou
falsidade?
A mais autêntica e atraente
manifestação feminina é o fingimento.
A mulher finge que é alta
no pedestal dos saltos dos seus sapatos. Que o seu rosto é sempre belo pela
maquilhagem que emprega como um quadro de natureza morta de uma aguarela.
Ostenta um corpo aromático pelo perfume e bem torneado pelas calças justas ou
saia curta. Simula seios opulentos com silicone, ou colocando um sutiã
milagroso que se encontra em qualquer loja de chineses.
É a mulher sonsa, pudica que
percorre a vida como um carrossel que gira sem parar. Sobe e desce, vai e
volta. Cria-nos novos sonhos e expectativas!
Embriaga-se pelo amor que
lhe provocam, e derrama lágrimas de saudade por quem esqueceu.
"A mulher é astuta e mentirosa, por ser fraca e oprimida; e a astúcia
é a força de quem não é forte." Paolo
Mantegazza.
Mas como a mulher, também
eu tenho dias que morro de dor, de alegria, de tristeza, de fome, de sede, de
raiva, de felicidade, de tédio, de calor, de frio, de rir, de saudades... Morro
de tudo um pouco… Vou morrendo…
Mas mesmo acabando sei que
fui alguém que se importou com alguns e fui insensível com outros, inclusive
comigo!
Fui tudo e não fui nada. Fui
tão amigável que não tive amigos verdadeiros. Fui tão calado que feri os ouvidos
e os sentimentos alheios. Fui tão conversador que não ouvi chamarem por mim. Fui
tão criança que esqueci de ser homem. Fui tão homem que esqueci a criança que
sempre viveu em mim.
Fui tão humano que esqueci
de ser santo e pediria perdão se soubesse que seria absolvido!
Fui tão sorridente que
escondi as minhas melancólicas tristezas. Fui sempre tão triste que gastei
todos os meus sorrisos para disfarçar.
Eu fui muitas coisas! Fui
até o que não queria ser!
Eu fui... Agora já não sou
mais!
Agora sou apenas
pensamento, tristeza, saudade e dor.
Uma dor de saudade pela
tristeza do meu pensamento de ti, mulher!
Apesar de se dizer que a
mulher nasceu para amar e não para compreender, eu queria, sim, voltar ao tempo
em que ria à gargalhada contigo no meio da rua, como um imberbe tonto.
Queria voltar a convidar- te
para um café num dia frio e adocicado, tão doce como aquele dia em que te
penetrei os olhos de um amor anónimo. Queria que continuasse a chover jasmim em
torrente, para neste momento separar os capítulos da vida que residi no coração
de uma mulher qualquer. Uma mulher que me incitou a escrever as páginas de um
livro sobre a mais linda história que espero um dia vir a concluir, se o mundo
não acabar na beirada de um sonho inacabado.