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quarta-feira, 26 de maio de 2010

A extrema carta


Lembrar é fácil pra quem tem memória, esquecer é difícil pra que tem coração.

(Jonathas Hardy)


Vou-te contar um dia, se para isso tiver audácia e sobretudo oportunidade. Pode não ser neste mundo, mas vou-te contar. Prometo!
Hoje não, porque hoje vou trocar o certo pelo incerto, as promessas por desejos, a emoção pela razão.
Hoje, não quero que o meu pensamento navegue no subterrâneo escuro e pantanoso do abalo.
Não quero ser apenas a miragem de um amor distraído que tropeçou no silêncio da perfeição.
Devia ter dito as palavras todas, como tu, mas sem lhes medir o sabor na língua antes de as morder em raiva.
O amor, tão nobre sentimento, tão grande tesouro, tão grande segredo que nos aperta a garganta, que nos faz sonhar com melhores tempos, com factos que sabemos que não irão acontecer...
Que enorme arma se entrega na mão de quem amamos. De tal forma tão arrojada, que para a disparar basta apenas uma simples palavra, e tão rápido como a luz, somos feridos e ficamos magoados com a pureza e a sensibilidade de uma criança de colo.
Nesta vida, já não espero milagres ou grandes novidades, mas desejava uma vez na vida, poder dizer: "Hoje realizei um sonho..."
E que sonhos são esses? Nada de especial... Apenas um passeio ao lado de quem amo, ouvir o meu nome pronunciado pelos lábios que tanto sonhei... simples não é?
Não, não é simples, é tão complexo como tudo na vida, quem sabe até mais.
Hoje deixo escorregar palavras pequenas e soltas que deixo aqui, sabendo que não serão lidas por ninguém a não ser eu... como tem ocorrido nestes últimos tempos sem qualquer motivo. O único que me ocorre, é que já ninguém têm paciência, para ler e comentar, um sonhador que já não sabe sonhar.
Hoje, só hoje, o teu sorriso é uma carícia fugaz, e a minha vida, uma falsidade em que eu quero acreditar.
Mesmo hoje continuo a ter saudades do nosso tempo, dos nossos momentos, da troca conivente de olhares, dos beijos cegos e húmidos de prazer sem limites, de ti...
Sei bem que se voltássemos a tentar reconstruir o que perdemos que nada voltaria a ser igual.
Irei seguir a minha jornada apesar de continuares esculpida na minha cabeça, talhada no meu coração.
Não sei explicar o temível enigma que nos molesta. Nem vislumbro solução quando repouso os meus olhos no infinito do mar.
Não tenho resposta para o incessante baloiçar de palavras ferozes, no parque do jardim dos nossos corações.
Não quero ser um obstáculo, uma escura ardósia que te tapa a felicidade.
Não pretendo ser o vulcão irado que cospe cinza que te envolve e te inibe de voar.
Para isso tenho de evaporar como uma poça de água estagnada ao sol quente e agreste.
Mas, antes de desaparecer de ti, de mim... Senta-te aqui. Encosta-te a mim e fala-me de ti!
Agora as palavras não faladas enchem-me os ouvidos, e eu calo-as num cântico bem alto, para lhes espantar o poder maléfico e as lágrimas entristecidas.

Deus queira que hoje a voz não me falhe!

25-05-2010


6 comentários:

Susana Vaz Pedro disse...

Olá! Ao fim de tanto tempo...
Tenho andado perdida de mim, no dia-a-dia atribulado que quase me dilui.
Tenho passado por cá, tenho lido os textos sonhadores e, no entanto, não tenho comentado. Já tenho escrito que nem sempre encontro as palavras que combinem com as postadas. O que se agudiza com este turbilhão em que a minha mente se tem encontrado.
Este texto tocou-me de uma forma singela mas profunda; quis dizer-lhe apenas isto.
Boa semana!
Su

Penélope disse...

Pois eu comento sempre teus textos tão profundos e desnudos.

Gosto de passear por aqui, meu amigo, mesmo encontrando um ser triste, às vezes.

Mas, daí penso... será tristeza ou será a forma com que este sonhador vê o mundo?

Este mundo que também é profundo e complexo?

Estou sempre a procurar as respostas para as questões existenciais que deixas pelo teu canto.

Outras vezes sinto-me um tanto invasiva, porque tu também não tem ido aos cantos de ninguém e então penso - talvez ele gostava de ficar sozinho e sem nossos comentários por cá.

Um grande abraço

mariaf disse...

O que seria dos poetas, dos compositores, dos roteiristas, dos amantes suicidas, se não houvesse sempre o amor a nos dilacerar? Sonhe sonhos, Sonhador. Eles são ilógicos, fugazes, lindos e neles as impossibilidades nunca existem. Mas deixe-os ficar lá onde devem ficar, e fique com eles. Na terra dos sonhos. Porque para realizá-los, terás que acordar e acordando corres o risco de constatar que tudo não passou de um sonho. O que seria de nós, teus pobres leitores, no dia em que resolvesses trocar por sensatez e razão esses desejos loucos que trazes escondidos nas dobras da tua alma? E no fim das contas, amor, amor mesmo, aquele que a gente procura em todos os cantos e pelo qual às vezes deseja morrer, não passa de coisa inventada.

Sonhadoremfulltime disse...

Su,
ao fim de muito tempo... o seu comentário ajudou-me mais a compreender o quanto eu próprio ando igualmente perdido de mim.
Se o texto a tocou, valeu a pena o post.
Obrigado

Sonhadoremfulltime disse...

Amiga Malu,
comente sempre, porque é um prazer ler o que escreve.
O seu sexto sentido é de facto bastante apurado.
A tristeza e a alegria fazem parte das nossas vidas.
Nasci triste, talvez me fine contente. Por enquanto é assim que observo o mundo desprovido e nu de valores.
O afastamento não significa ausência... nunca ninguém será invasivo e para só, já basto eu.

Um enorme abraço

Sonhadoremfulltime disse...

Mariaf
Agradeço as palavras que me transmitiu.
Na realidade que seria de todos aqueles que refere sem o sonho?
A desilusão ao acordar é na maioria das vezes bastante dura.
Não sei se consigo transmitir o que vai nas dobras da minha alma, no entanto escrevo com o coração.
Esse amor, talvez exista, só que eventualmente é bastante difícil de encontrar.
Obrigado