Enquanto os quilómetros vão passando pela paisagem, olho o horizonte limpo na manhã por estrear. Uma mescla de cores em azul e rosa alaranjado dizem que em breve o sol vai aparecer.
Paira um silêncio branco, belo, um mutismo puro pendurado nas copas das árvores recortadas como num quadro em tons pastel.
Sigo viagem para o meu destino, incógnito.
As minhas horas formam uma cadeia quase sem surpresas, repleta de actos, de obrigações, de alegrias e tristezas de uma existência trivial.
O enfado de uma vida… uma jornada sem destino.
A mística manhã provoca-me sempre um transe de tal forma que deixo a pele do meu corpo no assento da serpente metálica, e o restante levita numa viagem que nunca sei se terá regressão.
Amor, porque não me colocas uma máscara? Pode ser a que tu quiseres que eu traje. Enlaça o teu braço no meu e conduz-me ao salão de dança, porque hoje é dia de viver a fantasia.
Diz que é o fim, e logo a máscara terá que cair. Sempre que te olho, vivo a fantasia, a realidade sonhada dos meus dias.
Permite-me ser, o botão da tua blusa aberto pela mão que ousa fazer engrandecer as pétalas da direcção do teu despir.
Percorro os meus medos em espiral num poço sem luz, como se reconhecê-los fosse meio caminho andado para os enfrentar. Lá, bem no fundo desse poço, existe um corredor comprido de paredes amareladas e portas, muitas portas de um lado e doutro. Encostados à parede, bancos onde se sentam apenas olhares. Pressinto súplica, desespero, esperança. E dor.
Quase palpável é a acusação daqueles olhos que seguem os meus movimentos.
Passo por esses olhares, com vergonha e culpa. Sem encontrar também eu a explicação.
Ali, no corredor escondido no fundo dos meus medos, enfrento as minhas orgulhosas certezas, as minhas arrogâncias, e sinto que não valem nada.
Aqueles olhares também já reflectiram certezas, vaidades, arrogâncias. Também já brilharam de esperança, de amor.
Uns olhos, diferentes atiçaram-me a atenção. Com o medo a escorrega-me na face encostei-me à parede do corredor das minhas ilusões.
Aqueles olhos falavam. Inerte e prisioneiro de um simples olhar, ali permaneci num absorto silêncio.
Como aqueles olhos eram diferentes. E como se faziam ouvir no íntimo e completo mutismo da minha mente.
Da bandeja daqueles olhos caiu o copo, que derramou o tempero em meu corpo. O condimento para me despertar a sede de amar. Atira-me esses olhos e desfaz em mim o sal do teu olhar. Troca as cinzas que me habitam, pela almejada timidez do teu verde de sabor ao sal do mar encrespado.
A tua canícula de paixão e o sal ardente e inquieto do teu mar queimaram-me de sede!
Mas, se eu já não sou, e tu já não és, que sobra desses olhos franzidos que me olham como se eu fosse um nume sem poderes.
Eu nem existo mais! Apenas me resta a recordação da tua frescura, o sabor do teu suor, as grilhetas do nosso toque e o tremor do teu corpo.
Atira-me de novo os teus olhos contra os meus, faz-me daltónico dessa sede e diz-me quem sou.
Um Arlequim à busca da sua Columbina? Um príncipe escantado tentando encontrar a princesa adormecida? Ou o arquétipo de qualquer romance como Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta?
Não!
Serei para sempre, apenas um simples, triste e sonhador “pierrot”, que vagueia numa encenação improvisada de uma Commedia dell’arte, deixando-se levar ao sabor da inspiração do momento.
8 comentários:
Olá!
Vim lhe fazer uma visitinha. E desejar um ótimo final de semana.
Bjkas, muuuuuitas!
A mística manhã provoca-me sempre um transe de tal forma que deixo a pele do meu corpo no assento da serpente metálica, e o restante levita numa viagem que nunca sei se terá regressão.
O que dizer depois disso que aqui li? Sem contar no recorte perfeito entre três personagens tão complexos... tão profundos.
Beijinhos, sempre, meu amigo querido
Bom dia!!!
Que o seu domingo seja muito gostoso e cheio de paz!
Fico muito feliz quando você visita os meus blogs. Você pode acompanhar as atualizações e escolher aqui, dentre os vinte, qual o tema que mais lhe interessa:
http://blogsdasoniasilvino.blogspot.com. Ou... visitar todos e me fazer uma blogueira imensamente feliz.
Blogar me dá muito prazer. Visitar seu blog me dá muita satisfação, pois gosto das suas escolhas ao postar aqui. Receber as suas visitas é o maior presente para mim. Cada dia, ao ligar o notebook, espero sua visita ansiosamente, pois adoro você.
BONS AMIGOS
Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!
Machado de Assis
-Bjkas, muuuuuuuitas!-
Temos algo de Tristão..um pouco de Romeu e talvez muito de Pierrot..
Um abraço amigo
Ana Isabel
parabens pela participação no livro "Do infinito" =)
Enquanto os quilómetros vão passando pela paisagem, olho o horizonte limpo na manhã por estrear. Uma mescla de cores em azul e rosa alaranjado dizem que em breve o sol vai aparecer.
Paira um silêncio branco, belo, um mutismo puro pendurado nas copas das árvores recortadas como num quadro em tons pastel.
Sigo viagem para o meu destino, incógnito.
O início, belíssimo, é rematado pelo sublime final.
Em grande fôlego, inspirado e seguro, transmites uma força assinalável. Gosto de ler estas palavras. Gosto de as ler nas entrelinhas. Vejo a força anímica. Vejo a sensibilidade.E vejo que há um caminho, ainda que nem sempre pareça assim.
Meu querido amigo
Um belo texto, cheio de mágoa e talvez desilusão.
Beijinhos
Sonhadora
A vida é assim, meu querido Sonhador. A Colombina sempre vai chorar pelo amor daquele estranho Arlequim.
"Entretanto, ouve aqui, à guisa de consolo:
diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo!
Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo,
entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!”
Menotti del Picchia (As Máscaras)
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