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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O preto fica-te bem...


Por causas externas e alheias à minha vontade, mas que têm tudo a ver com a preservação da minha privacidade, este blogue esteve temporariamente encerrado.



Obrigado

Ó papão vai-te embora,
de cima daquele telhado,
deixa dormir o menino,
um soninho descansado


 
Parte 2


Gonçalo Nunes era médico de cirurgia vascular a rondar os cinquenta anos, tinha um filho que vivia com a ex-mulher, figura simpática e com um rosto enovelado donde sobressaíam uns olhos grandes e vivos, muito escuros.
Após o jantar, e sempre que a vida profissional o permitia, tinha o hábito de ir até um pequeno bar na zona central de Belverde.
Uma noite sentou-se ao balcão, como de costume, e pediu o habitual: um café e um whisky simples.
Pouco depois sentou-se junto dele, com um banco de intervalo, uma mulher vistosa, elegante, de cabelos loiros e pele branca. Aparentava uns trinta e poucos anos e aquela cara bonita não era estranha ao Gonçalo. Usava óculos escuros, mesmo dentro do bar, que lhe ficavam muito bem.
A mulher, ainda sentada e petrificada no carro começou a rever a sinopse do filme que a levara num pesadelo àquele lugar. Sempre que revia a parte final do guião concluía que teria de ir até ao fim. Ser protagonista daquela película até ao desfecho. Relembrou a primeira vez que lhe ouviu a voz forte e timbrada.
- Desculpe! Posso sentar-me neste banco? – Perguntou ele à desconhecida enquanto se adiantava e ocupava o assento ao lado da mulher.
- Certamente.
- Não a conheço! Mas a sua cara não me é estranha...
- Não sei… Não tenho ideia de o ter visto alguma vez… E nem moro para estes lados…
- Pois! Não sei - Fez uma pausa e continuou - É a primeira vez que vem a este bar?
- Sim! Começava a estar farta de estar em casa à noite, mesmo com a companhia da TV e da Internet – disse Gisela soltando uma risada discreta - É a solidão da vida moderna…
- E que quer beber?
- Apenas um café… Se não se importar…
- Obviamente que não. Beba o que quiser.
Ambos tomaram o café em tétrico silêncio, ouvindo-se apenas o riso implicante de uma jovem ruiva que bebia mais uma das muitas cervejas já entornadas no estômago. Ao lado um jovem que à primeira vista parecia rapaz, mas que levantava sérias dúvidas tais os abanicos que emprestava ao corpo.
- Bom, tenho de me ir embora! Está a fazer-se tarde.
- Certamente. Quer que a leve a algum local em especial? Perguntou o médico.
- Não, muito obrigado! O meu carro está lá fora.
- Obrigado pela sua companhia. Gostei muito de conversar consigo – disse Gonçalo.
- Eu também!
Gisela levantou-se e airosamente sumiu pela porta do bar, deixando um etéreo perfume que invadiu a atmosfera e as narinas do médico.
***
Durante meses apenas o odor incrustado no nariz de Gonçalo o fazia recordar o rosto daquela bela mulher.
Os dias passaram e correram numa rotina constante. Na mente de Gonçalo relâmpagos de saudade daquele momento... Da conversa que não foi terminada.
- Pois é, se não visse o teu carro, nada dizias! Exclamou o médico enrugando a testa em sinal de censura.
- Ia ligar a dizer que tinha chegado. Afinal, isto é longe p’ra burro…
- Longe? São apenas cerca de quarenta quilómetros.
- Como conseguiste mesmo o meu número de telemóvel? Perguntou Gisela na iminência de uma resposta aceitável.
- Conheço muita gente… e este País é uma aldeia… Agradeço o teres vindo. Rematou Gonçalo fintando a pergunta.
- Eu é que te agradeço o convite.
- E então… Entramos? Vais sair do carro?
- Desculpa. Claro que sim…
Gonçalo abriu a porta da Audi ao mesmo tempo que fazia uma espécie de vénia. Gisela soltou o seu cingido vestido preto e deu-lhe a mão.
Só tinha uma hipótese: Ir!
Entre as várias opções que lhe estavam a ser impostas, o tempo tornava-se cada vez mais escasso e a sua escolha teria de ser imediata, ou ficava na sua crisálida claustrofóbica sem qualquer evolução vivendo em função e consoante os desejos de outros.
Depois da tomada de arbítrio de viajar até Belverde, apenas e só uma solução: Ir! E Gisela foi mesmo.
O médico agarrou-a pela cintura e apertou-a contra si, enquanto se dirigiam para a bonita e confortável casa.
- O preto fica-te bem! Exclamou o médico com os olhos esbugalhados e fixos contemplando-lhe a silhueta.
Ele procurava a todo o custo as chaves nos bolsos apenas com a mão que lhe restava livre.
Após alguma luta, a chave penetrou a ranhura e o calcanhar foi suficiente para fechar a porta.
Ambos se beijavam com uma avidez violenta, enquanto o médico lhe aflorava os seios perscrutando o decote do vestido.
Riam, titilavam-se de tal modo que foram esbarrar num sofá de pele cor bege e onde ele a entornou suavemente e se precipitou a banhar-se no seu corpo já desnudado.
Levantaram-se, e colados entre si foram para o quarto onde ele se acabou de despir, entre mordidelas, beijos e gemidos.
Gisela apertava as suas pernas por cima dos rins dele, de forma a ser ela a guia-lo para dentro de si. O suor pingava das têmporas do médico que se contorcia em movimentos cadenciados como as ondas de um mar encrespado.
Por vezes os gemidos eram interrompidos por exclamações de um frenesim instintivo.
Quando ambos se quedaram permaneceram ainda por um tempo colados, a arfar exaustos e alheados por uns minutos.
Gonçalo beijava-lhe a nuca enquanto a sua mão lhe cobria um dos seios.
- Este calor é insuportável. Devia cair uma zerbada daquelas que limpassem bem a atmosfera.
- Que chovesse?
- Sim… é uma expressão de Trás-os-Montes e ouvi-a o meu pai dize-la várias vezes.
- Não sabia! Exclamou Gisela rindo e esfregando o nariz no de Gonçalo.
A tarde arrastava-se, como a tartaruga, molengona, sob a capa fina dos abraços de calor de Agosto. Deitados e completamente desnudos foram percorrendo as horas em diversas e heterogéneas cavaqueiras regadas por um vinho branco da zona de Azeitão.
Os corpos animosos pelo néctar dos Deuses voltaram a amar vezes sem conta até ao esgotamento físico.
O ambiente do quarto subia de temperatura após cada investida carnal o que fazia com que ambos limpassem a cortina de suor que persistia em lhes cegar os olhos e lhes secar a garganta.
- Gi… vou fumar um cigarro. Disse o médico levantando-se e enfiando um robe que adejava pelo quarto. Ela levantou as sobrancelhas e arredondou os olhos, querendo deixar transparecer também o mesmo desejo.
- Dás-me um também? Inquiriu.
Ele acendeu outro cigarro e foi meticulosamente e com gesto cirúrgico colocar-lho entre os lábios escarlates e carnudos.
- Gonçalo! Estou estafada e cheia de calor. Podíamos tomar um banho e sair um pouco. Espairecer… Queres?
- Oh minha doce… Claro, é para já. Concordou o médico largando uma fumaça e dirigindo-se para a casa de banho da suite.
Gisela permaneceu ainda deitada em posição fetal como querendo abrigar-se de algo.
Os olhos denotavam um aspecto triste e o semblante era de preocupação e nervosismo.
- Aproveita o cigarro que eu sou rápido… Gritou o médico com a voz já represada pelo escorrer da água.

(Continua...)