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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Isabel


Todos os dias, saía de casa para ver os primeiros raios de sol da manhã, na enorme praia da Fonte da Telha e por ali passava os dias, observando os veraneantes que iam torrando os corpos.
Gostava de avistar os nadadores salvadores. Sempre tinha tido uma certa admiração pelo trabalho daqueles jovens musculados, de cor dourada e odor a sal.
E como o progresso não pára, as sereias salvadoras deambulavam igualmente pelo areal, enterrando os pés o que lhes provocava um andar sensual… Experimentem ver.
Na última madrugada daquele verão, antes que o sol se pronunciasse, decidi que podia explorar mais as falésias que vigiavam a praia.
Ultrapassei o longo areal, ainda frio e dirigi-me para uma colina íngreme e bastante escorregadia. Certamente que pouquíssima gente se daria aquele trabalho inglório. Passei por uma estreito trilho que contornava um grupo de rochas até que cheguei ao alto.
O vento fustigava-me o rosto com tal brutidade que chorava lágrimas como se uma agulha me espicaçasse os olhos.
Ali, no alto, o terreno aplanava, e o silêncio perturbava. O ar melancólico do alto da colina era intensificado por um velho casario abandonado, que pertenceu a uma família chamada Castro. Os Castro, família abastada nos anos setenta, tinham apenas uma filha, a Isabel.
Uma menina bonita, e com a particularidade de possuir uma brava cabeleira ruiva e o rosto pintalgado por sardas.
Há muitos anos atrás, ela desapareceu misteriosamente e nunca mais fora vista. Os Castro depois do sucedido partiram para as bandas de Lamego. A casa ficou abandonada, cercada de suas gigantescas cercas de ferro. A casa estava tão desgastada pelo tempo que parecia moldar-se ao chão e ao espaço em torno dela.
Ainda que ofegante, dei mais alguns passos, até bem perto das grades ferrosas e ferrugentas. Colei o nariz junto ao velho e corcovado portão e olhei em direcção a uma janela de portadas que outrora foram verdes. Era a janela do quarto de Isabel. Sabia-o porque trinta e seis anos me separam do primeiro dia que vi a menina ruiva naquela mesma janela, a espreitar o sol que lhe transformava os cabelos em madeixas douradas.
Nesse instante, lembrei-me das lendas que contavam na Fonte da Telha, nos anos que se seguiram ao sumiço de Isabel. Transformaram-na em vítima de um crime hediondo. Em algumas delas dizia-se que fora degolada pela força de um machado, em outras que tinha morrido afogada na banheira, que teria sido enterrada viva e que seu franzino corpo repousa em algum canto daquela casa. E mais que histórias sangrentas de assassinatos, a casa e Isabel, passaram a ser protagonistas de inúmeros casos de mistérios, pois não foram poucos os que relataram terem visto seu fantasma surgir por traz da vidraça da janela das portadas verdes.
Eu, céptico nestas coisas, nunca tinha visto o fantasma de Isabel mas pensei que aquele seria, quem sabe, o momento ideal, pois acreditava que os mortos só aparecem em segredo e apenas quando tudo se encontra no mais absoluto silêncio.
Queria vê-la. Comprimi ainda mais o meu rosto contra a grade, cerrei os olhos, e evocando a minha voz de adolescente murmurei, a medo:
— Isabel.
Nada.
— Mais uma vez.
Um novo sussurro, que enviei através do vento, à janela da portada que já fora verde.
— Isabel.
Aguardei alguns instantes, esperando que um ser de mais ou menos fantasmagórico se anunciasse através de qualquer uma das janelas da casa. Mas, nada.
Uns borrifos de chuva começaram a cair. Uma chuva fina e cadenciada que transformou todo o local numa branca e densa neblina.
Triste, mais um dia, voltei para casa e adormeci, esperando sonhar com o meu fantasma ainda não descoberto.
Algumas horas mais tarde, fui acordado por um ruído infernal que descia a minha rua. Uma centena de pessoas gritava que a casa dos Castro, na Fonte da Telha, estava a arder. Apressadamente e sem dar pelo tempo lá estava eu no meio da multidão.
Na casa viam-se bombeiros e policias por todo o lado. No telhado, nas janelas, no antigo jardim. Subitamente, surge um bombeiro com a face negra com uma menina ao colo. Aos encontrões fui-me abeirando cada vez mais da frente do antigo jardim e da cerca de ferrugem agora raiada de ervas que lhe preenchiam os espaços dos aros quebrados. Ali estava Isabel com os seus cabelos de ouro trazida da morte.
Nunca me tinha sentido assim, aterrorizado, mas ao mesmo tempo como alguém que habitasse um lugar inexistente ou mágico e acreditando ser capaz de ressuscitar os mortos. A menina foi conduzida a uma ambulância, e ao passar muito perto de mim, e por um breve instante tive a sensação do confronto dos nossos olhares, como se fossem cúmplices de algum pecado.
Aterrorizado, olhei aquele rosto de menina. Ela não crescera. Virei-me de soslaio para a esquerda e amedrontado, vi o meu reflexo no vidro da porta da ambulância que se fechara para seguir para o hospital.
O meu rosto tinha rugas feitas pelo tempo. O meu corpo era de homem. Isabel continuava a menina dos cabelos ruivos. Teria o tempo parado naquele local? Ou será que cessa perante a morte? Esteve na realidade alguma vez Isabel morta?
Não sei, apenas e só continuava a ver aqueles olhos que tinha fixado os meus.
Despertei. Os meus olhos estavam molhados. A minha almofada era testemunha do odor a sal que os meus olhos teriam deixado escapar.
Levantei-me atordoado e pensei que o tempo tinha ficado preso e acorrentado Isabel, para me dizer que aquela linda menina, era a filha que nunca tive, e como o destino é sábio, fez com que a conhecesse há trinta e seis anos.
Poe esta mesma razão, ainda hoje choro, pela filha que nunca tive.

In: A filha que nunca tive

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quero largar a tristeza à porta do teu corpo


"Dorme, meu amor — a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres."
Maria do Rosário Pedreira


Hoje não quero escrever, irei apenas semear algumas palavras de modo que cresçam árvores de frases.
Não, não estou louco porque a minha loucura nasceu quando contemplei pela primeira vez o brilho desses teus olhos negros.
Que desejos te acendi eu, se tudo o que tenho está na alma?
Que vi na tua carne que se colou aos meus olhos como uma dor insuportável?
Passeio-me na nudez da minha memória, onde guardo na distância da tua ausência momentos repletos de ti.
Desejar-te é como tricotar o tempo à espera da medida certa do teu corpo, da prova do teu vestido.
Esfumei-me naquela folha branca onde traçaste o meu esboço com a tinta lívida que te dei, quando te ofertei o meu coração.
Arrepiei-me nas palavras que bradavam daquele texto em que me soubeste tão bem descrever. A tinta secou, tal como a réstia de esperança que ainda me habita e consome.
Imploro-te ainda que sintas nas tuas mãos o suor que escorre de mim e diz-me: ADEUS.
Peço que termines com esse amor a meio tempo. Vem ter comigo de vez, mata a ansiedade que chove em nós, pesada, deixa-me ser teu assim muitas vezes fechado em suor, ou então só mais uma vez mas, com o tempo todo, para que o mundo acabe bem e me possas cantar trovas de amor.
O teu sabor é mais que puro orvalho que escorre em fragrância de neve, leitosa e húmida. E sempre que sinto o teu aroma, o céu torna-se violeta a maior parte dos dias. Por vezes acastanhado, outras, azulado para o índigo. Mas, sempre de tonalidade diferente.
Ri para mim. Ri com a malícia do teu sorriso que me encanta e bota-lhe o som roufenho de quem rasga uma folha de papel.
Sabes, o pecado é um sonho que cabe em duas mãos e que voa livre como uma gaivota.
Estriei-me no trasfegar de sentimentos nos poemas que escorriam do teu peito deitando-me à noite com a lua.
Mas até a própria lua perdeu a beleza que possuía quando a mirava-mos juntos, mão na mão, face na face.
Hoje quando a olho, apenas observo silhuetas de gatos anorécticos de ossos a romper-lhe a pele, restos estilhaçados de vasos onde antes existiam orquídeas selvagens.
Dei-te a mesa do amor. Embrulhaste-me no teu lençol de linho debruado a ponto sombra e o teu colo manso de virginal princesa.
Ofereci-te o meu sonho que fantasiava contigo.
Desperto.
Olho agora a face da noite. Está escurecida. Está parada, desenhada na geometria do silêncio, diria eu que empobrecida. Que linhas e molde usaste para desenhar este silêncio?
Questiono os verbos e as palavras trocadas como lanças de fogo que atearam a nossa inocência.
Agora já não adormeço no leito aberto do teu corpo. Fomos um par de pleonasmos, uma parelha de redundâncias.
Respirávamos em uníssono senão morríamos. Mas, um de nós deixou tombar o olhar no chão.
Será que fomos mortos pela nossa paixão? Tu eras o meu espelho, eu eventualmente a tua miragem. Será que o espelho quebrou, com tanto beijo, com tanto amor?
Mas que importa terminar o que não teve início?
E antes que a chuva acabe de vez lá fora vai-te embora que “ele” já deve estar à tua espera, e se fosse mentiroso como me apelidas, enganador como a primavera, dizia-te que não me importava. Tenho incessantemente tentar perceber a frase que deixaste presa ao meu peito, triste e nu. “Irei amar-te para sempre!”
Já chega. Rouba-me e vai-te embora.
Mesmo sendo quem não sou e tu sendo quem és, continuarei a amar-te.
Como eu não sou quem tu és, e tu és como eu sou, responde-me de vez em tom de vermelho que é a cor do prazer e volúpia sem falácia, amas-me a mim, ou amas um ideal?
Nunca me conheceste, nunca te entendi. Preferiste escutar vozes cadavéricas de maldade, mentira, podridão e despotismo.
Nunca quiseste entrar e percorrer o espaço desmedido do meu coração.
A falta só será visível quando não fizer falta.
Um dia, mesmo que distante no tempo, irás reconhecer, que todos nos enganamos e talvez nesse dia me reconheças ao longe e me avistes caminhar, já em dificuldade pelo peso da idade e pela corrosão de um coração que sofre.
Debaixo do braço, fortuitamente, quem sabe, consigas decifrar o poema Adeus de Eugénio de Andrade.

“Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
(…)
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.”

2010-02-22

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Na noite fria, a brisa é minha amante


O dia findou. A solidão dobrou. Deixo a noite deitar-se sobre mim, cobrir-me com o seu escuro xaile-manta e escuto o brado da ventania que me embala nas noitadas frias e pardacentas dos meus sonhos.
Escuto atentamente as palavras mornas nesta noite de desejo.
É nesta vontade de viver que imploro o calor do teu corpo. A alma, essa já não acalenta. Está como a noite, escura, ventosa e fria. Cadavérica de sentimentos. Desiludida e só. Que se açaime o sentimento. Enquanto é tempo!
Careço de ti. Preciso sentir. Abro as vidraças da janela e permito que a brisa e o negrume me invadam todos os poros do meu corpo de homem despojado de pingas de amor que se soltam da poesia, alimentam a alma e regeneram as memórias. O meu quarto apoderou-se da gélida humidade da noite do meu consolo.
Agora sinto as mãos do vento em murmúrios de silêncio, deslizando pelas colinas do meu corpo, pelos sulcos do meu rosto. O vento, sempre me soube compreender. Tem um jeito brando de beber de mim o suco que escorre de cada palavra. Mesmo daquelas que, por gentio pudor, silenciava ao altar do amor.
Os meus olhos cerram desejos, a minha boca desflora o beijo que incendeia as estrelas mais selvagens.
Deixo que me cubra de folhas cadentes a pele, cada traço, cada ruga, cada silêncio. Não te ergas apenas nos planaltos do desejo, leva-me contigo ao cume do prazer. Traz-me os meus sonhos e faz-te nuvem no céu da minha boca. Humedece todo o meu ser e deixa o momento fazer memórias para podermos recordar.
É no ventre da noite que liberto todos os meus caminhos entre sombras roucas de ecos mágicos e os transformo em lúgubres arrepios do prazer.
Sopras-me palavras quentes nesta noite de prazer. É neste orgasmo da vida que imploro que não pares. Traz-me à terra em teu abraço e deixa que a minha alma finda borbulhe para que sinta o teu calor, até à próxima vez.
Suspiros de volúpia dançam no tecto do meu quarto, onde resvalam pelas paredes versos de amor em sonetos incompletos.
Arrisco confessar-to agora, os meus dedos, as minhas mãos, perderam, heregemente o jeito limpo de dedilhar, em saltérios dúbios, a nudez da palavra mulher. A minha Deusa já não me reconhece. Partiu com o tempo. Para o teu mundo querida brisa, amante dos pobres de coração e despojados de buena-dicha é como um jogo à cabra-cega. Mas o teu sopro e a brida cálida embrulham a minha falta, o meu padecimento.
Exausto e errante de ti, pouso os meus sonhos em teu regaço não sentindo a noite que morre. Unidos ficaremos para todo o sempre, na tranquilidade dos laços em nossos corpos.
Agora vai, deixa-me repousar do duelo travado sem padrinhos, sem regras.
Partes para longe, mas sei que voltas. Imploro-te somente que escrevas até ao fim o romance de nós dois em cada pedaço do meu corpo suado e quente do prazeroso amor, pela indecente paixão de um prazer solitário.


E o caminho para achar a Perfeição e o Amor está dentro de nós. E assim, aprenderás a voar...

By Fernão Capelo Gaivota

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

“Eu não espero uma mulher, espero simplesmente um amigo.”


Não me reconheço, ultimamente. Hoje pejado de uma apatia estranha que me toldava os movimentos das pernas e os batimentos cardíacos, prostrei-me encostado a uma tabique na tentativa de conseguir engolir o sabor acre da mágoa e descansar o barulho que me martelava o cérebro como sinos a tocar em debalde.
A respiração ofegante provocava dor no meu peito.
Gotículas de suor escorriam-me pela testa e invadiam-me os olhos. O ardor das gotas de fluidos do meu corpo faziam-me semicerrar os olhos e embaciaram o espelho da minha alma.
“Onde estou?” “Que faço aqui?” “Porquê?”
Com estorvo, via a silhueta das pessoas que passavam apressadamente fugindo da ameaça da chuva que teimava em cair.
Sem percepção os meus pés continuavam como colados ao chão.
As pingas, agora da chuva, misturaram-se às de suor. Pareciam picos que me abalroavam a cabeça desamparada.
“Que faço aqui?” Um contorno feminino mirava-me de alto a baixo.
“Que queres?” “Deixa-me por favor.”
“Eu não espero uma mulher, espero simplesmente um amigo.”
Um breve sorriso feminil fez-me aliviar por dois segundos um coração aflito. Ao retirar dos lábios aquele sorriso, tirou da mala um chapéu-de-chuva de um amarelo berrante, que me agasalhou como uma barreira protectora.
Passei a ver melhor, porque o escudo provocado pelo chapéu protegia-me os olhos da chuva e do fuzilar das pingas a esmurrarem-me a cabeça.
“Não, eu não quero uma prostituta.”
“Não, eu não preciso de bebida.”
“Muito menos de um padre virgem.”
“Sim, quero estar só.”
“Apenas quero alguém que me proteja e que queira chorar comigo.”
“Não, não quero fazer amor.”
“Quero só saborear o seu doce aroma.”
“Vais?”
“Desculpa, eu não espero uma mulher, espero simplesmente um amigo.”


16-02-2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Parabéns à vencedora do desafio... e à novidade!


Obrigado a todos os que participaram neste desafio.
É com imenso mágoa que não posso declarar vencedores, todos os que responderam ao meu desafio.
Pela primeira vez o desafio lançado, virou-se contra o “desafiador”.
Foi gratificante observar que todos acertaram em muitas das questões colocadas. Tão emotivo, que até o meu amigo Cirrus, distraído como o imagino acertou em algumas questões. Uma, ele já sabia :)

Mas como só posso eleger um vencedor, pois apenas tenho em meu poder um exemplar da Colectânea A Traição da Psiquê, terei de declarar a minha amiga SU http://umfiodesilencio.blogspot.com/ a vencedora, pois apenas falhou uma das respostas e foi a primeira a fazê-lo com um só “tiro”.

No entanto seria injusto que (Malu, Susana, Lita, Catwoman, Angel in the dark), não merecessem igualmente uma menção honrosa.
Não atribuo à minha querida amiga Luz, porque a mesma já possui um exemplar dos meus livros.
Como referi, o feitiço virou-se contra o feiticeiro.
Apenas tenho um exemplar da referida colectânea, mas tenho igualmente um exemplar do “Ano Louco” na minha posse.
Para isso terei de fazer uma pergunta de desempate… Acham justo?
Então a pergunta será feita no fim do texto.

Respostas

 

Su disse...
Então cá vai a minha tentativa... Com a salvaguarda de que estas peças do puzzle são difíceis de descobrir...! :)
1 – Qual a minha cor favorita? Azul.
2 – Qual a minha banda musical de sempre? Pink Floyd.
3 – Escritor preferido? Dostoievski.
4 – Livro preferido? Livro do Desassossego.
5 – Astro preferido? Lua (Sonhador que é sonhador, "anda com a cabeça na lua"! Ihihih!)
6 - Principal característica que me atribui? Sonhador.
Independentemente de acertar muito ou pouco, tenho de dizer que foi divertido o desafio de tentar perceber estes seus gostos!

Susana disse...
Olá Sonhador,
antes de mais desejo um maravilhoso feriado:)
Depois vou abraçar com carinho o seu desafio embora um pouco ansiosa:)
1º qual a cor favorita? AZUL
2º Qual a minha banda favorita de sempre? Pink FloYd
3º Qual o escritor favorito? Dostoievski
4º Livro favorito? "Ano Louco"
5º Astro preferido? Lua
6º Principal característica, não podia deixar de mencionar a Lua, astro encantador, mas não muito iluminado.
Malu disse...
Olá, vamos lá...
Não sou boa em desafios porque como já disse uma vez, sou loira e a fama das loiras, mesmo as tingidas, não é muito boa...
Sua cor? Azul ( talvez por conta das fases de Picasso... mas se juntar a fase rosa terá um lindo lilás)
Tua banda Pink Floyd, apesar de ouvir outras coisas excelentes por aqui.
Escritor? Citaram Dostoievski, mas você combina também com Tolstoi, Gabriel Garcia Marquez, Tantos poetas, como Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade e, se fosse bem brasileiro te colocaria ao lado de Mário Quintana.
Teu astro assim como o meu é a LUA, por ser inspiradora, totalmente sedutora, misteriosa e tão frágil, além do que, bela.
Teu livro, também acho que seria o do Desassossego, por levantar tantas questões dos nossos "eus", assim como os fragmentos de Pessoa.
Uma característica sua?
Viver sonhando com um mundo que possa vir a ser melhor, com mais brilho, mais amor, mais esperanças.

catwoman disse...
É verdade que o encantador de ontem, pode ser o pesadelo de hoje. Enfim, para mim a realidade é que neste mundo cada vez mais individualista as pessoas tem cada vez menos disponibilidade para o outro. E já não é só de amor e paixão que falo, mas de outros sentimentos, nada tem que ser eterno mas o diálogo é essencial, para que o eterno se torne finito com menos mágoa, menos dor, menos lágrimas.

Mas falemos antes do teu desafio, não vou acertar uma, mas pelo menos tento.
1. cor favorita, o azul, como o céu e o mar.
2. banda, ainda não te conheço o suficiente por isso arrisco os Pink Floyd
3.Esta e a 4. não arrisco.
5. A lua, como bom pisciano, se não for tens que ser riscado do melhor signo do zodíaco :)
5. pela mesma razão, um humanista(deverendo ser entendido, como um homem do mundo, que estando aqui se preocupa com o que está mais além), com tendência para a meditação, um bom amigo.(tentei compensar a 3 e a 4).

Bem já sei que não ganhei, mas esta sou eu:posso não conseguir mas isso não me vai impedir de tentar.

Angel in the dark disse...
Respostas ao desafio:

cor: verde (de esperança)
Banda musical: Fink Floyd (ou Queen)
Escritor preferido - Fernando Pessoa
Livro preferido - Mensagem de Fernando Pessoa(estou a arriscar)
Astro preferido - terra
Principal característica - sonhador

Não sei se é através deste meio que se encaminham as respostas, mas aqui vai.
Mas tarde tecerei um comentário ao "viveram felizes para sempre"
Angel in the dark disse...
Vou apenas alterar algumas respostas que da primeira vez já tinha dúvidas:
Cor preferida? Azul
Banda preferida? Queen
Astro? Lua
Todas as outras mantenho, não tenho escolha em alternativa.

Lita disse...
Sonhador,
O prometido é devido...
Ando sem tempo nenhum, infelizmente o tempo não anda a meu favor, mas com muito gosto, participo, tal como já o tinha dito:
1 – Qual a minha cor favorita? - Azul
2 – Qual a minha banda musical de sempre? - The Queen
3 – Escritor preferido? - Florbela Espanca
4 – Livro preferido? Livro do Desassossego Fernando Pessoa
...."Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente"....
5 – Astro preferido? - A lua
6 - Principal característica que me atribui? - Acreditar no sonho
Espero, andar pelo menos lá perto...
Do mais... mais difícil, foi o escritor! e respondo com muita dúvida!
Mas foi muito interessante, gostei muito!
Um beijo
Lita



As minhas respostas:
1 – Qual a minha cor favorita?
Azul, a cor do céu do mar e dos meus olhos.
2 – Qual a minha banda musical de sempre?
Pink Floyd sem qualquer dúvida. A banda que me acompanhou na minha adolescência e que com a sua magnífica música me ajudou a sonhar. The Queen, Led Zepplin, The Doors, Dire Straits entre outros.
3 – Escritor preferido?
Entre muitos, Dostoievski, Vítor Hugo, Eça, Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade.
4 – Livro preferido?
Esta a questão, mais complexa, pois muitos livros deixam vincos na nossa memória. Mas aquele que me marcou mais, talvez pela época em que o li, Os Miseráveis de Victor Hugo, Olhai os lírios do campo de Érico Veríssimo, O livro do desassossego de F.P.
Seria um pouco narcisista dizer o “Ano Louco”, no entanto é um dos meus preferidos, pois um “filho” é sempre obra nossa.
5 – Astro preferido?
Aqui não há qualquer hesitação… A Lua a minha musa inspiradora.
6 - Principal característica que me atribui? Sonhador e sensível.


Atenção:

Lita, Malu, Susana,Catwoman e Angel in the dark...

- A minha área profissional está ligada à informática. No entanto o Sonhador gostava de exercer outra profissão.
- Qual?
Boa Sorte!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Desafio - Intuição feminina


Denoto que, pelo número de respostas recebidas, que as questões as consideram complicadas?
Na realidade todas as respostas estão nos meus blogs.

1 – Qual a minha cor favorita?
2 – Qual a minha banda musical de sempre?
3 – Escritor preferido?
4 – Livro preferido?
5 – Astro preferido?
6 - Principal característica que me atribui?

Eu acredito na intuição feminina.

Desafio - Termina Domingo (14-02)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

E viveram felizes para sempre?


O dia nasceu soalheiro. Alguns raios de sol penetravam pela janela enquanto me barbeava e ensaiava com dificuldade o difícil despertar.
O frenesim de todas as manhãs, sempre.
A custo de algumas gotas de suor consegui vir até à capital, no comboio que parte impreterivelmente sempre à hora cera.
Lugares vagos, bastantes, pelo que escolhi um junto da janela.
Duas jovens entram na estação seguinte e com grande alarido despertaram-me da letargia dos sete minutos que separam as duas estações.
Embora atoladas de cadernos e folhas rabiscadas com fórmulas matemáticas, a conversa e o riso estonteante, estonteava-me a mim que ainda não tinha despertado na íntegra para o mundo.
O tema, as frequências em escala menor, os namoros em proporção inversa às frequências.
Falavam do Júlio em tom estridente, da Catarina e do Miguel de forma um pouco diferente, mais em surdina.
- E tu?
- Eu, o quê?
- Como está o teu príncipe encantado? Já o descobriste?
- Não acredito nessa cena… Tu, acreditas?
- Mais ou menos…
Claro que enquanto iam trocando impressões as unhas pintadas de vermelho carcomido amassavam as teclas dos telemóveis com tamanha rapidez e destreza que me fizeram sentir inválido e que os meus dedos devem estar completamente tolhidos por artrite.
Ao fim de dois minutos, levantei voo e passei a escuta-las muito ao longe.
Príncipes e princesas encantadas…
Existirão? Na minha humilde opinião, não!
Para mim o que existe são encontros e desencontros. Podemos de facto em algum desses momentos da nossa vida encontrar alguém com quem partilhamos interesses, e com quem existe uma afinidade muito forte, esse é o nosso par ideal nesse preciso momento. Não será?
Dos contos de fadas e histórias de amor eterno para a vida real, eles, … não vivem felizes para sempre.
A vida como o amor é uma provocação constante. Uma circuncisão da alma muitas vezes despida e cheia de tristes fados é que se silenciam as palavras. Abrem-se feridas como golpes de espada.
Muitas pessoas com quem falo, não acredita que o amor corta, consome, marca profundamente.
Quantas vezes a mutação da paixão assoberbada para o amor companheiro, faz extinguir a chama e a luz apaga fazendo com que na escuridão surjam sombras que envolvem um ser que se cala.
O sonho pode cair por terra pelo facto de se descobrir que, afinal, existem muitas perguntas sem resposta o outro não era o que aparentava ser, ou não passou de uma projecção de desejos.
Quem perde? Quem fica? Quem sente? Quem sabe?
São questões que levamos na bagagem, quando se parte para outra, mas em que as memórias permanecem em nostalgias passadas como finitos sorrisos em passados recentes.
Finitos sorrisos em passados recentes.
Quando alguém diz adeus e parte, a saudade marca o percurso, numa direcção que iremos percorrer. Iremos caminhar, sem olhar para trás, sem pronunciar o nosso nome.
O amor é feito de intimidade, compromisso e amizade.
De amor em desamor, de encanto em desencanto, a verdade é que a procura do verdadeiro amor, do homem e da mulher ideal, nunca expira.
É como nascermos anónimos e incógnito morrermos.
Segredo bem guardado, o sonho de encontrar a princesa ou o príncipe encantado continua sempre presente. Todavia surgem folhas secas que se amarrotam com o tempo e o medo da solidão faz-nos galgar para a última página do livro, para o epílogo do conceito de amor.
Numa hora que tarda, mas que sempre chega, numa triste dor que se sente no peito, o mais racional é não tentarmos encontrar ninguém encantado, mas sim, alguém encantador, que nos encante e nos deixe encantados até que o encantamento se dissipe em lágrimas de desilusão e dor, que comprovam, que não é para sempre...
E viveram felizes para sempre?

Nota: O último parágrafo em itálico é uma contribuição da Lita do blog (Por uma lágrima tua)
http://soporumalagrimatua.blogspot.com/
Obrigado pelo enrrequecimento ao texto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Amor em três actos


I acto (Encontro)

As cortinas de veludo escarlate deslizam suavemente deixando vislumbrar os dois actores que vão protagonizar a mais bela história de amor já alguma vez impressa e editada.
É a mais bela porque, é a minha história de amor. Triste? Bela? Surreal?
Depende sempre da interpretação de quem assiste.
O público está sentado. Apenas se ouve algum sussurro perdido esvoaçando pela sala. As luzes começam a extinguir-se tal como a chama do coração dos artistas. As pancadas profundas de Molière perturbam o silêncio que já se fazia sentir.
Os actores avançam para a boca de cena vazia de adereços. Afinal numa história de amor os adornos não são necessários. O único enfeite será o laço que une apertadamente dois simples corações.



Amor à primeira vista? Não sei, porque custa-me a acreditar em tal. No entanto a cumplicidade e compreensão entre nós, permaneceu desde o primário segundo.
Observo-te ao longe encostada nas grades à espera do desconhecido com os olhos inertes a observarem o vazio que ainda aguardavas.
Vou deixar-te navegar na noite perdida ou vou envolver-te no brilho dos meus olhos para que te esqueças que o sol não existe à noite.
O frio faz-me lacrimejar. Será apenas do frio?
Agarro o teu braço e o momento, vamos sentar-nos numa mesa que relembro no presente e esqueci no passado.
Olhas-me e sorris. Sei que me vês como um porto de embarque distante, mas de paragem obrigatória.
Dirijo umas breves palavras ao empregado e este dá-me os cafés fumegantes que nos aquecem o corpo e a alma. Olhas-me e passas a língua nos teus lábios.
Eu, subtilmente, brinco com o pacotinho do açúcar tentando disfarçar o embaraço. Fico inquieto. Sorris e passas os dedos pela chávena fumegante devagar, aquecendo as tuas mãos enquanto eu as imaginava no meu corpo. Sinto o rubor a crescer-me na face.
És extrovertida e simultaneamente serena como a pintura de Mona Lisa.
Nunca dito palavras abertas a uma desconhecida, mas encontrei em mim a coragem necessária. Totalmente engasgado e meio hesitante desvendei-te segredos que só a minha mente conhecia.
A partir daquele momento, passei noites a sufocar em desejos. O meu peito, ardendo em brasa.



II acto (Conivência)

A noite está clara porque as estrelas davam-nos as boas vindas.
Os teus fascinantes olhos negros fixam os meus.
Hesitas-te um segundo, que me pareceu uma eternidade, mas por fim, o teu rosto roça o meu e os teus lábios tentam descortinar os meus. Soou uma melodia, nos meus ouvidos. Sorri e tu riste-te. Acariciei-te, sem que te importasses. Beijei-te!
As noites longas são o revigorar do nosso amor. É nessa maré de letargia que te beijo na volta de um beijo naufragado nestes meus lábios púrpura.
A noite é a nossa confidente, a madrugada o porto que te acolhe entre penhascos onde as palavras do meu amor ecoam nos teus ouvidos.
Para além da lua e das estrelas temos sempre os olhos encharcados do Tejo que sussurra melodias que nos fazem chorar. E tantas vezes chorei. E tantas vezes bebi as tuas lágrimas salgadas com sabor a Tejo. E tantas vezes o vento chorou por nós. E eu acamava a cabeça no teu colo na esperança que tu fizesses calar o vento.
Quando a lua se entorna pela janela e me lambe o corpo, nu de roupa e totalmente atolado de amor lanço-lhe beijos com ternura e cumplicidade. Na sua mágica luz, observo o encanto do teu corpo nu, o ardor contundente dos teus lábios, o sabor morno do teu beijo.
Não existem segredos, mas sim, sentimentos castrados pelo medo do sol. Sempre que conto as estrelas junto mais duas, aquelas que permanecem no teu olhar sempre que vens, e que me beijas, que me amas. Não te percas a olhar a sensualidade enrugada do tempo, não existe pêndulo, não existe o dia nem a noite quando estamos juntos, apenas o momento.
O ressurgir das músicas incansáveis que tocam como um despertar constante de ti ecoam baixinho nesta madrugada onde te acolho em molhos de poesia que me encharcam o peito.
Que espectro transformou o teu sumo doce de amor em adversidade, em sentimento frustrante e secreto?



III acto (Oscilação)

Agora, a lua recusa-se a beijar a escuridão da noite. Aconchego-me na vida verdadeira e adormeço a chorar sem a presença do luar que me banhava em sedução, e sem ti.
Não existe vento que te saqueie enquanto existires em mim.
Não existem mais as palavras que soletravas e escrevias na ardósia do meu coração.
Tudo subsiste apenas na magia destas mãos quentes e na alma gélida de silêncio.
Estou na extremidade da ponte que te alcança, estou tão perto de ti que quase te toco. Sei-te inquieta porque pressentes o cheiro da ansiedade que me envolve.
Acaricio-te em sonhos e pela minha mente perpassam imagens da tua nudez branca. Tão branca como o linho em que te aconchegas nas noites frias sem mim.
Detenho-me por momentos, na rosácea dos teus seios tumentes onde a minha língua já desenhou espirais de um sôfrego desejo incontido.
Por fim o meu sonho feito de intempéries de pequenos nadas desvanece-se como plumas aleatoriamente ondulando ao sabor da agitação do vento da monção da Península Arábica.
Abro o livro de Inês Pedrosa. Fazes-me falta. Não li. Fiquei-me apenas na beleza das palavras.
Fazes-me falta para me fazer rir, para me afagares os parcos cabelos em desalinho tal como a minha alma. Fazes-me falta para poder chorar no teu ombro. Fazes-me falta porque afinal ficou o teu número no meu telefone.
Sem ti é sempre quarta-feira, já não vejo o tempo a percorrer o calendário da nossa existência.
No peito, a dor que sinto entope-me a fala. Uma dor inexplicável e insolúvel que brota águas e uivos lancinantes e não pára. Uma dor pungente que é minha, que é tua, que é nossa.
Agora, apenas me resta fechar os olhos, na ânsia da morte, por permanecer nesta solidão impregnada de ti.

As cortinas de veludo escarlate deslizam agora suavemente em sentido inverso cobrindo a ausência de ornamentação e os dois actores que terminaram de protagonizar a mais bela história de amor já alguma vez impressa e editada. A nossa história de amor.
O público saiu em sepulcral silêncio.
As luzes da sala dimanaram de novo iluminando os passos perdidos, de quem abandonava o espaço onde se viveu, vive e viverá para sempre o amor… O palco da vida, porque na realidade viver no coração de alguém que nos ama não é morrer.
Diante da cortina, já um pouco amarrotado, apenas o laço que uniu dois simples corações numa peça em três actos.

FIM