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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Adeus a mim!

A tristeza inunda-me o coração. A dor é inaudível, mas feroz. A alma, essa já não padece. Anda perdida num oásis despojado de água, sentimento e esperança.
Preciso pensar…
Mas será que ainda o sei fazer? Já duvido de mim, e de tudo o que me rodeia. Será que alguma vez soube pensar?
Porque vivo em perfeito desassossego na companhia da nefasta solidão?
Porque existe um silêncio constrangedor entre nós? Um silêncio danado que devora todas as palavras que dizemos um ao outro?
E eu que consumo palavras para que não morra, que gasto a tinta das minhas veias para desenhar na folha branca o verbo copulativo do meu sujeito e do teu predicado. Devia descer para a plataforma do destino e morrer para ressuscitar! Só assim poderia recomeçar a ser eu. Recomeçar de novo.
Porque me perdi de mim?
Porque te perdeste de ti?
Porque nos expulsámos de nós?
Como eu me anojo do meu mesquinho mundo.
Preciso pensar…
Que esconso espectro nos separa da vida como uma paralalia diagnosticada numa simples rotina médica.
Eventualmente apenas nos resta a Lua que temos vigiado e vivido todas as noites.
Por isso e sem demora vamos deitar-nos no seu leito antes que ela se dane e nos deixe desamparados como dois espantalhos arraigados em terra.
Preciso pensar…
Sei que não sou eloquente como devia, frutífero como queria, mas sou afectuoso como o repousar do crepúsculo no teu rosto, meigo como o espumar das ondas do mar quando à noite vêm beijar a areia da praia.
Tenho noção que há o tal espaço que nos afasta, mesmo quando os meus braços te embalam para que adormeças na tranquilidade do meu calor. Existe um tempo que nos separa, mesmo no ritmo sinusal do bater do nosso coração.
Quem sabe se não existe um fecundo silêncio que diga tudo o que as meras palavras não dizem.
Preciso mesmo pensar… Dizer adeus.
Adeus a mim!

JC

Imagem: Google

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Encontro Ocasional


Desta forma o sonho tornou-se realidade.
O abismo que separa o sonho da realidade tinha sido superado. Não havia forma de retroceder.
Estava feito e agora sim, a velocidade em que percorria o carreiro deste ano era já de cruzeiro.
O ritmo iria aumentar subitamente e de forma aterradora.

Entro num café. Sento-me numa mesa.
Dessa mesa que se encontra mais perto da montra, sigo as gotas que serpenteiam, distorcendo o trânsito da hora de ponta.
Ainda não escureceu completamente e sobre Lisboa, uma nuvem escura paira, resultado imaginado do cúmulo de todas as “neuras” dos periurbanos que regressam atravessando o rio.
Apesar de escuro, o céu nublado não suaviza os contornos da praça.
Em vez disso a luz filtrada pelas nuvens pesadas de chumbo destaca cada racha, fissura ou telha musgosa dando aos prédios distribuídos em ferradura um ar tristemente ameaçador.
Pendurado no cigarro, na ponta dessa corda mágica que se desenrola em hesitantes convulsões até ao tecto, pareço representar para um público invisível.
Levo lentamente o cigarro à boca e aspiro, concentrando toda a minha atenção no som do tabaco que se incendeia. A incorporação do fumo dilui a minha existência material, aproximando-me do estado etéreo, longe da plataforma do comboio em que me despeço de mais uma tentativa envergonhada a uma vida “normal”.
“Tabaco só na máquina!” Atira pelo canto da boca o empregado do balcão.
“Então podia-me trocar esta nota de 20 Euros?” A voz é feminina e a maneira como se arrasta nos ”nh’s” deixa transparecer uma ponta de periferia.
Estou de costas para a porta. Já conheço o empregado e guardo por ele uma embirração especial. Conheço-lhe o prazer de desagradar tão pouco condizente com a sua profissão, mas tão presente nos criados de Lisboa.
Dirige-se para a máquina. Estou de costas para ela enquanto oiço o som das moedas a entrar na ranhura. Tantas melancolias há instantes. O etéreo e tudo isso. A perda... sentimentos um pouco doces de tão pesados, rapidamente afastados pela mão desta ajudante de cena que agora atira para o bar (des) povoado de clientes e pelo empregado ordinário:
“Nunca faço isto! Entrar num bar vazio!”
Falar para a nuca de um homem que bebe cerveja, pendurado pelo nariz à última réstia de consciência?
Consigo ouvi-la inspirar lentamente e sigo algures na sua zona occipital o peito dela a elevar-se por baixo da camisola de lã.
“Isto de comprar tabaco. Normalmente fumo o que me dão.” Viro a cabeça e sinto-me na obrigação de esboçar um sorriso. A franja, que não consegue decidir se avançada ou extremamente fora de moda, esconde-lhe um pouco dos olhos redondos.
Tira o maço da máquina e senta-se na cadeira à minha frente “Posso?” Finamente sorrindo.
“Podias ter dito!” Indico com a mão o maço. Acende o cigarro e fica para ali a ser admirada. Eu faço-lhe a vontade. Enquanto os meus olhos se passeiam pela linha da cintura e pelos seios pequenas ela rebola os olhos com um canto da boca revirado (por prazer ou feitio) até se fixar nas gotas que escorrem na vidraça.
Chego a uma conclusão engraçada, se estivermos atentos, sedução e luxúria estão por toda a parte, rodeia-nos de tal maneira que se queremos sair é deveras complicado furar a barreira que nos circunda.
Mais complicado ainda é depois de inseridos, tentar que as coisas passem ao lado.
É deveras complicado. A tentação é muita e a idade desperta-nos um requinte que nos era anteriormente desconhecido.
Talvez, também nos dê um certo charme que joga a nosso favor.
Já a conhecia de algum tempo a esta parte.


Texto: in "Ano Louco"
Imagem: Google

domingo, 16 de agosto de 2009

Praia


Não há nada como uma ida à praia para, me pôr bem-disposto! O sol a abraçar-me a pele, a areia nos cantos mais recônditos do nosso corpo e foi com este pensamento que ao fim do dia me dirigi à praia.
Sinto-me no fim do mundo, porque nesta praia quase vazia, parece que estou completamente só. Sento-me numa duna, abraço as pernas e aplaco o mar com o meu olhar. Num devaneio olho para o lado e vejo-a sentada noutra duna a cerca de dez metros de mim.
"Não é possível!" Penso para comigo, quase espantado por existir. Mas é verdade estás ali, no mesmo local que eu, à mesma hora, sem que nada o previsse.
Sorris-me, como se adivinhasses a minha surpresa, ou a esperasses há já muito tempo.
Enquanto me sorris, eu levanto-me e vou ao teu encontro.
- Olá mulher linda. Disse eu sorrindo.
- Tive saudades tuas. Dizes com um sorriso de olhos, aqueles em que me perdi na primeira vez que te vi.
Pego-lhe num fio de cabelo, que sorrateiramente se esgueirava para dentro do vestido e puxa-o para fora. Brinco com ele, enrolando-o nos dedos.
Deixei escorregar, a mão ao de leve pelo seu peito, em seguida pelos ombros, pelo pescoço, traçando os contornos, como se as minhas mãos fossem um lápis.
- Quero desenhar-te.
- Já o estás a fazer. Diz ela com a voz quase em surdina.
- Mas quero desenhar-te toda. A minha mão continua traçando linhas já existentes, até às suas pernas.
Destapo-lhe o resto do seio, que indiscretamente se mostrava, e toquei-o, fazendo pequenos círculos à sua volta, deixando-o rijo, arrepiado e enchendo-a de desejo.
Preparo-me para a beijar e nesse instante, com toda a agilidade ela foge. Corro atrás dela, e nem hesito em ir apanhá-la ao mar.
Já na água, o meu braço molda-lhe a cintura enquanto ela solta risos de criança, e pegando-a ao colo, coloco-a novamente na areia.
Deito-a na areia e o meu corpo cobre o dela. Olha-me com insistência e essa imensidão de olhos é devastadora para a minha alma, pois invade-me como jamais o senti.
Nem sequer dá para evitar deixar que isso transpareça. Penso em a beijar, tocar, acariciar e que o amor se fará naquela praia (deve ser o que desejo), mas surpreendeu-me, pois abraçou-me e disse-me ao ouvido que esperou por mim a vida inteira.
Em seguida, levantou-se, secou o corpo embebido em água que o vestido absorveu, pegou-me na mão e conduziu-me perto do seu carro.
- Esperei por ti a tarde inteira naquela duna. Sabia que virias até cá, como sei que nos vamos voltar a ver?
- Mas, como sabias que viria aqui? Perguntei eu.
- Li o teu pensamento, ainda antes de o teres pensado.
Beijei-a e sorri com um ar de ternura, enquanto lhe afago os cabelos, para logo a seguir me afastar lentamente, olhando para aquela imagem que ia ficando menor à medida que me afastava.
Há, pelo menos uma certeza que tenho, é que nos voltaremos a ver.

(Só espero que da próxima vez, pelo menos consiga desbloquear-me e perguntar-lhe o nome...)
Afinal nem a voltei a ver nem fiquei a saber o seu nome.



Texto: In Ano Louco


Imagem: Google

domingo, 9 de agosto de 2009

Utopia


Olho o horizonte e avisto utopia!
Revejo-me à procura da nossa melodia perdida.

Uma vida de sonho, eu não consigo ter!
O íntimo sinto perder... o vazio estranho vejo crescer.

Procuro por mim, procuro por ti
Quero emoções que outrora senti.

Procuro um olhar
Desejo-te amar...

A solidão que sinto ao luar...
És tu sereia do mar.

A mão que se perde à procura da tua
Como a minha pele ardente e nua...

Desejo o teu corpo amarrado ao meu
Anseio ternura do teu olhar que já se perdeu?

Agora é noite na minha alma
Noite inacessível, noite cerrada

Noite sem estrelas, noite sem ternura
Noite sem ti, noite sem aventura

Noite... e mais nada.
Espero,
Desespero;

E continuo à tua espera… sempre!
JC


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dor de amor




Dizem os entendidos, que a dor de amor dói para sempre. Não sou especialista nem o pretendo, mas julgo que o tempo varre as folhas caducas das árvores e sopra para longe os estigmas do amor.

Uma amiga disse-me um dia, que pensava seriamente que a dor que sentia iria durar para sempre. Que seria eterna.
Sabia que não era dor física, daquelas que um simples analgésico faria travar, ou mesmo amenizar.
Dizia-me ela que não tinha tido a sorte de ter encontrado um amor tranquilo. Era um amor dificultado por diversas razões. Claro que eu conheci-a bem e sabia do que falava.

- Sinto o meu coração esfarrapado como trapos finos e gastos. Dói.
Eu tinha consciência que aquele coração estava ferido que sangrava com o rasgo da dor.
Na sua cabeça, apenas via a imagem do amor na silhueta de um homem.
Que algum tempo a esta parte sentia o chão a fugir-lhe aos pés, um enorme buraco em que não queria cair. Mas, que por vezes pensava em lá se sepultar.
Não, queria viver. Viver bastante para lhe gritar aos ouvidos até o ensurdecer com a palavra amor.
Viver, para explodir o peito com tanto chorar.
Viver, para se poder matar e matá-lo.
Viver, para o matar para tentar renascer.
Viver, para sorrir quando ele sorria, chorar quando ele chorava, enfim poder transmitir-lhe o que sentia, de modo a que ele igualmente o sentisse da mesma forma.

Por vezes queria ter o condão de lhe poder abrir o peito arrancar-lhe o coração e colocar lá o meu.
- Vá toma… experimenta amar-me como eu te amo.
Outras vezes, rasgar o meu peito, tirá-lo dentro de mim e dizer-lhe:
- Vai… esquece que eu existo. Vai… segue o teu caminho. Já não preciso de ti.
No entanto venci-me. Matei-o no meu coração. Doeu! Muito. Uma dor que não se apaga e que incendeia pelo enorme ardor que emana.
Oh, triste ilusão! Um amor deste tamanho não se consegue matar.
- Sonhei tantas vezes com o momento de te deixar que cheguei a odiar-te. Sabias? Amava-te, odiava- te. Odiava mas amava.
Sufocava-te com o meu desejo. Estava viciada em ti de tal modo que já não sentia sofrimento quando me injectavas com a agulha da tua apatia.
Viciavas-me com teu olhar, afogavas-me com a tua voz e afundaste-me com o teu beijo.
Sei que dificilmente vimos à tona depois de nos afogarmos nas águas revoltas de uma paixão. E enquanto disputamos as ondas do tempo que nos querem atirar de novo para o fundo de nós e novamente nos enlaçar com o eterno sofrimento, eis que o tempo corre… passa, e volta a passar.

Hoje tenho que dizer que tens razão. Ainda te amo. Mas calmamente, com a suavidade dos anos. Sim! Ainda te amo. Mas já não me consegues viciar com os mesmo olhar e agora permito-me amar outras pessoas.
Sim! Na realidade ainda te amo. Todavia já não me afogas com a mesma voz e permito-me viver sem ti.
Sim! É verdade que ainda te amo. Mas na realidade o teu beijo deixou de ter a força gigante de quando me afundava em ti e permito-me existir para mim.
Mas ainda te amo.

Texto: JC

Imagem : Google