Não sei se as palavras que quero empregar têm o vigor que necessito que
tenham, mesmo que não passem de sombras no segredo da maioria das noites em que
o meu corpo se recusa a dormir.
Não sei a cor do tempo que me arrisco a perder, não sei se uma palavra ou
um gesto poderão mudar tudo.
Hoje, não consigo ver amor em nenhum lugar ou rosto, apenas indiferença e um
género de ódio ou talvez rancor.
Hoje não consigo pintar um sorriso no rosto de uma criança nem inventar uma
cinematográfica e arrebatadora paixão.
Hoje, estou cansado de ti…
Hoje, estou farto de mim…
Hoje, não passo de uma morte por cumprir...
Hoje falta-me a força para morrer…
Não sei se estar só é estar ausente do corpo que mora num espaço repleto de
multidão.
Não sei se solidão é escrever à flor da pele, rodeado de memórias e títulos
de lombadas já gastas, acompanhado apenas de uma música amena para não acordar
quem dorme.
Não sei se estar só é espremer ao máximo os gritos que apetece atirar até
os ecos morrerem na neblina do Tejo.
Não sei se solidão é esquecer o agrilhoamento da porcaria que envolve o
mundo como se esquecesse de que é nele que se pagam todas as injustiças.
Não sei se estar só é a vontade de sair de mim e gritar de pulmão descerrado
que acima das misérias, existe ainda a gratidão; e que bastava que ela fosse
partilhada na reciprocidade para nos sabermos acompanhados.
Não sei se a solidão é a impossibilidade de respondermos sim ao que nos
pedem.
Não sei se estar só é ser-se mal-amado.
Não sei se solidão é não ter sono e escutar todos os espectros dos ínfimos
ruídos na rua.
Não sei se estar só é lembrarmo-nos quem somos e o que fazemos.
Não sei se solidão é viver perdido entre muita gente e rodeado de uma
permanente ansiedade.
Não sei se estar só, foi por vontade de Deus…
1 comentários:
talvez seja por um pouco de tudo isso...
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