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terça-feira, 6 de julho de 2010

Mar submerso em lágrimas


Foi uma estocada bem no peito que acabou com tudo e me arrancou de mim.
Um despretensioso segredo que se refugia numa caixa de bonecas, assim, sem mais, sem ninguém o imaginar.
Contemplo as brechas da alma raiadas de vermelho vivo, e espelho o olhar bem no fundo de mim enquanto o sol me vai inflamando o peito.
Agora, sangra-me o adeus nas palavras e é com odor a iodo e sal que as limpo.
Que me resta? A bússola que me norteia o resto dos dias, porque sei que o meu presente jamais terá futuro.
Talvez nada mais seja importante para além da brisa ardente do mar, do apregoar dos pássaros, e do cair do dia enquanto o sol vai declinando na linha do horizonte.
Do imenso mar de emoções que me banha corpo e alma, apenas me remanesce que sempre fui filho de um adeus e agora o Diabo me fez filho de Deus.
Mas não desisto.
Procuro-te no calor do sol, tento encontrar o teu rosto no oceano, nas dunas da praia, até nas rochas que as vagas acariciam deixando-me invadir por vezes pelo silêncio apenas quebrado pela agitada e estranha pronúncia das águas do mar.
Tento ouvir o teu riso na melodia que sempre me acompanha.
Olho as crianças no jardim e imagino-te sentada naquele banco gasto pela roçar da recordação e pela solidão de um passarinho negro poisado na árvore dos meus dias com um canto cinza de embalo que parou a meu lado.
Espero pela brisa que me traga o teu cheiro a frutos bravios. Todavia, julgo que te procurei nos sítios errados. Tentei ver-te em todos os locais onde não estás.
Mas acabei por te encontrar entranhada em mim. E como numa paisagem de Rembrandt, vou pintar os meus derradeiros dias de cinzento leve, mas sempre com um pingo de vermelho rubro de paixão.
De negro as horas incertas, perdidas num pouco de azul em tom de ilusão. Depois, aqui e ali, umas manchas verdes interpoladas feitas de retoques de esperança.
E assim, lentamente e sem arte deixo escorrer o diluente na tinta de água na tela da minha vida.


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