"Existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita das respostas!"
(Fernando Pessoa)
É mesmo verdade, cheguei aos cinquenta anos. Não dei por qualquer transformação. Não senti a mágica que me devia ter invadido. O tempo passou como a coruscante luz de um relâmpago numa noite de estio.
Sei que não sou, não quero, não ambiciono, nem tenho o atrevimento, de querer ser exemplo para alguém. Devo ser o mais perfeito exemplo da imperfeição.
Penso nas cinquenta voltas da minha vida, nas promessas de eternidade que nunca se cumprem.
Penso nas relações que se juram sólidas e ao cair do calendário acabam. Penso nos dias que me levanto com a alma reduzida e me deito com a sensação de que nada na vida é eterno.
Flutuam emoções que vão mudando. Houve um tempo em que sabia que a minha vida ia ser especial, distinta. Ideais, valores e razões para lutar. Hoje vejo-me preso na monotonia, na cor cinza, na existência com uma única razão a de lutar por mim mesmo sem grande firmeza. No fundo vivo longe do mundo submergido na deliciosa melancolia.
E sei que enquanto sentir medo da chuva, todos os pingos serão uma ameaça e eu, apenas uma poça de água no teu inverno.
Como seria bom levar-te a ver o mundo nos meus olhos.
Sabes, as pessoas são como livros. Apaixonantes, divertidos, aborrecidos, insuportáveis.
Há os que tem somente três páginas mas inesquecíveis, há os que duram meses e gostas muito mas não os voltas a ler, há os que não te dizem nada e há aqueles que não voltas a olhar mas recordaras para o resto da tua vida. É tão difícil encontrar as boas pessoas como os bons livros. Obrigado a todos que são para mim como os meus livros de companhia. Nunca deixarei de reler as vossas páginas com amor.
Há quem não goste do silêncio. Muitos têm medo dele porque faz pensar. No silêncio a mente indaga de si para si e algumas pessoas preferem tudo já explicado e esclarecido pelos outros.
Eu não tenho medo do silêncio em que me perco.
Mas estou cansado. Sempre me entreguei complectamente.
Ja não há nada que me possam extorquir, porque já nada tenho. Sou um corpo sem dono, pertenço ao fundo dos grandes oceanos, ao voo das aves errantes.
Nunca amei e nunca fui amado? Ignoro se isto é verdade. Não sei responder. As dúvidas assolam-me o coração
Olha, quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti. Cobre-me o corpo gélido com um desses lençóis com odor amantético que alagamos de beijos quando as horas eram outras nos relógios do mundo. Depois leva-o depois para junto do mar, onde possa ser apenas mais um poema.
Quando eu morrer, deixa-me a ver o mar do alto de um penhasco e não chores, nem toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me que rasgas todos os meus escritos em pedaços tão pequenos como pequenos foram sempre os meus ódios e depois parte sem olhar para trás nenhuma vez. Se um dia, alguém os vir de longe brilhando na poeira, cuidara que são flores que o vento despiu, estrelas que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.
Afinal porque teria medo do silêncio em que eternamente me perdi.
(Fernando Pessoa)
É mesmo verdade, cheguei aos cinquenta anos. Não dei por qualquer transformação. Não senti a mágica que me devia ter invadido. O tempo passou como a coruscante luz de um relâmpago numa noite de estio.
Sei que não sou, não quero, não ambiciono, nem tenho o atrevimento, de querer ser exemplo para alguém. Devo ser o mais perfeito exemplo da imperfeição.
Penso nas cinquenta voltas da minha vida, nas promessas de eternidade que nunca se cumprem.
Penso nas relações que se juram sólidas e ao cair do calendário acabam. Penso nos dias que me levanto com a alma reduzida e me deito com a sensação de que nada na vida é eterno.
Flutuam emoções que vão mudando. Houve um tempo em que sabia que a minha vida ia ser especial, distinta. Ideais, valores e razões para lutar. Hoje vejo-me preso na monotonia, na cor cinza, na existência com uma única razão a de lutar por mim mesmo sem grande firmeza. No fundo vivo longe do mundo submergido na deliciosa melancolia.
E sei que enquanto sentir medo da chuva, todos os pingos serão uma ameaça e eu, apenas uma poça de água no teu inverno.
Como seria bom levar-te a ver o mundo nos meus olhos.
Sabes, as pessoas são como livros. Apaixonantes, divertidos, aborrecidos, insuportáveis.
Há os que tem somente três páginas mas inesquecíveis, há os que duram meses e gostas muito mas não os voltas a ler, há os que não te dizem nada e há aqueles que não voltas a olhar mas recordaras para o resto da tua vida. É tão difícil encontrar as boas pessoas como os bons livros. Obrigado a todos que são para mim como os meus livros de companhia. Nunca deixarei de reler as vossas páginas com amor.
Há quem não goste do silêncio. Muitos têm medo dele porque faz pensar. No silêncio a mente indaga de si para si e algumas pessoas preferem tudo já explicado e esclarecido pelos outros.
Eu não tenho medo do silêncio em que me perco.
Mas estou cansado. Sempre me entreguei complectamente.
Ja não há nada que me possam extorquir, porque já nada tenho. Sou um corpo sem dono, pertenço ao fundo dos grandes oceanos, ao voo das aves errantes.
Nunca amei e nunca fui amado? Ignoro se isto é verdade. Não sei responder. As dúvidas assolam-me o coração
Olha, quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti. Cobre-me o corpo gélido com um desses lençóis com odor amantético que alagamos de beijos quando as horas eram outras nos relógios do mundo. Depois leva-o depois para junto do mar, onde possa ser apenas mais um poema.
Quando eu morrer, deixa-me a ver o mar do alto de um penhasco e não chores, nem toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me que rasgas todos os meus escritos em pedaços tão pequenos como pequenos foram sempre os meus ódios e depois parte sem olhar para trás nenhuma vez. Se um dia, alguém os vir de longe brilhando na poeira, cuidara que são flores que o vento despiu, estrelas que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor.
Afinal porque teria medo do silêncio em que eternamente me perdi.
JC
Imagem: Google
1 comentários:
Eu tenho medo do silêncio porque me perco...
Muito bem escrito, como sempre. Parabéns!
AC
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