Quantas vezes transmito formas algo esquivas aos actos deformados do meu pensamento, sempre que me descubro neste estado de apatia.
Apenas mais um dia como todos os que guardo na memória.
Penso muito, penso demasiado…
Não quero que dêem pela minha presença. Gosto de estar no meu canto, e ver as águas correr sempre no mesmo sentido. Na direcção oposta ao meu desejo.
As luzes delicadas à beira-mar reflectem-se na corrente negra, e deixam um rastro que sigo indiferente a tudo e todos.
A distância por vezes edifica um novo rumo, e os trilhos que outrora sorveram as vozes, distanciam-se agora de um único ponto. A saudade.
Não, não quero que dêem pela minha presença.
Desejo um amor sem pressa. Um amor vagaroso que me permita a busca de um pingo de luar.
Quero amar serenamente sem ter de derramar na água os lençóis esquecidos que fizeram de vela quando o vento soprou no mar.
Cada dia que aflora a minha vida, mais se sente a lacuna das raízes que não me amarram ao chão.
Quem me dera poder beijar o sol e incendiar os ventos da indiferença. Ter a coragem de olhar a lua de frente e mergulhar sem medo no mar exaltado, esquecer-me de mim e lavar os meus pecados. Penso muito, penso demasiado…
Serei eu um ladrão de sorrisos, que rapina júbilo a quem me rodeia?
Será que roubo pequenos pedaços de estrelas, sonhos e promessas?
Não, eu não colecciono gargalhadas, palavras de amizade e confiança, nem junto tesouros infindáveis numa cave escondida.
Volto a pensar se serei um “Eduardo mãos de tesoura” que por mais que faça acaba por magoar aqueles que ama?
Por que motivo ao estender as minhas mãos, provoco estranheza e dor?
Custa-me pensar que a única forma de não me magoar, nem magoar os outros, é pelo afastamento.
Terei de agir como o verdadeiro Eduardo? Isolar-me e viver numa mansão junto das estrelas, distante de todos, e exprimir o meu amor esculpindo pedaços de gelo para que as pessoas que amo me entendam, sintam o gélido sentir que me imputam?
Será que terei de viver como num conto de fadas, que, apesar da diferença que sinto, tenho sentimentos, amo, e também sou ferido?
Para mim, as mãos de tesoura de Eduardo são apenas uma metáfora da dificuldade em expressar sentimentos, em se relacionar com os outros como tantos de nós que vivemos este os ínfimos dias deste mundo.
E são dias impossíveis de serem iguais, os dias diferentes de todos os dias.
Somam-se as diferenças da igualdade e temos dois dias iguais. O somatório da verdade.
Serei um "Sonhador mãos de tesoura"?
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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3 comentários:
E de dias e momentos, sonhamos com uma caminhada vivida e sonhada.
Gostei muito.
Obrigada pela visita
Antes de mais queria agradecer o comentário deixado no meu blog, Obrigada.
Como não poderia deixar de ser vim, também eu visitar o teu "cantinho". Este texto prendeu-me, e fez com que os meus olhos se inundassem e o coração apertasse e quase doesse, não por algum tipo de pena ou simpatia mas porque me identifiquei com o sentir. Voltarei.... até breve!
decididamente ... um sonhador mão de tesoura!
:)
teresa
vou ficar a visitar-te
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