Ontem, ou hoje? Lisboa estava insuportável. A canícula era imensa e eu mal conseguia respirar.
Olhei curioso para um placard, que me respondia em néon de tom amarelado, “19:28”; “32º”.
Apenas queria chegar ao lar. Mas, não sabia para onde me dirigir. Que casa? Onde moro? Eventualmente habito apenas no mundo, e moro o teu coração! Caminhava absorto de corpo e alma… andava apenas entre caras sisudas e crespadas que nada me diziam. Por vezes quase que comigo colidiam, no entanto eu desviava maquinalmente o meu percurso.
Vaguei por aqui e por ali sem sequer me sentir, mas a viagem tem mais sabor quando cada cruzamento é uma incógnita.
A minha mente apenas me devolvia uma mácula de mulher, uma silhueta de ti. E no teu contorno me perdi…
Quase onze e meia da noite e lá em cima da noite, a lua parece pendurada numa rede atada a coqueiros do espaço, uma alcalada onde me escondo e me deixo embalar, contigo ao lado, no meio das estrelas que sorriem quando passam por nós.
Procurei bem no fundo da pasta inerte e suspensa no meu ombro esquerdo, a chave do teu coração que me tinhas dado no primeiro dia que me viste.
Afinal nem foi necessária, pois tinhas a portada semiaberta. Entrei, estavas de costas e envolvi-te com os meus braços, daquela forma que tanto gostas, apertando-te contra o meu corpo enquanto as minhas mãos construídas por um tapume de cristais de gelo te aconchegam o ventre e te provocavam arrepios.
“Chegaste e eu nem dei por ti…”- disseste enquanto eu penetrava os meus dedos em pequenos fios de cabelo, como vírgulas, alojadas sobre a testa e junto às orelhas, que te transmitem aquele peculiar encanto que revivo sempre que te olhos te vêm.
O ambiente estava calmo. O silêncio dos nossos lábios contrastava com o pujante ruído dos nossos olhos.
Ao longe, a voz rouca e triste de Leonard Cohen enlaçava-nos com a derradeira estrofe - “Your eyes are soft with sorrow/Hey, that's no way to say goodbye.”
Teus lábios entreabriram-se e deixas-te escapar um sorriso. Eu fiquei em hipnosia, e montei o teu airoso sorriso de forma a chegar ainda mais perto de ti.
Quando as minhas mãos se deixam levar pelo desejo de conhecer a tua pele doce debaixo do teu vestido não te quero assaltar, não te quero levar nada, porque meu amor, tu já me roubaste o meu coração há muito tempo. Por isso não te amedrontes. Apenas quero conhecer um pouco mais de ti. Quero apenas que sejas um bocadinho mais minha. Sempre mais e mais… E de todas as vezes que te abraço com força, de todas as vezes que deixo a minha boca escorregar para o teu gracioso pescoço e de todas as vezes que esta destra mão investiga a perfeição do teu ventre, eu só te quero a ti. Nada mais. Apenas terminar a nossa noite e explorar a perfeição do corpo e a ânsia que nos une e consome o corpo e o espírito.
E, tu sabes que o que arde em nós é impossível de encobrir, a lembrança de cada dobra do teu corpo consome-me, agora é tarde, é impossível evitar este desejo imenso que me ofusca a luz do dia e me suspende o sono.
A reminiscência do sabor dos lábios é forte demais para que consiga atirar para trás da porta do teu coração a vontade de te consumir inteira na minha vida.
Quero apenas que te deixes antojar o que não existe, e simplesmente te deixes levar, pela música, pela noite e por este alquimista de sonhos feitos.
E no cantinho da nossa imaginação, enquanto te atenuo do peso exagerado da roupa que te cobre, a tua sedosa e perfumada pele olha para mim despreocupada mas ardente de desejo na alcofa do teu interior. Eu fico contigo despido de roupagem, de preconceitos, e de alguém que quer ser alvo de alomorfia.
No cantinho do nosso sentir, enquanto te deixo completamente aguada de beijos, o tempo e o espaço correm sem fim avassalando o nosso amor, tal como corroem a noite que está quase a cair. A noite pode ser muita coisa, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, e já foi tudo isso no nosso universo. Tanta incerteza que viver é ambiguidade.
E na incerteza nocturna eu afastei-me das luzes e corri despido de roupa pelas ruas de ardósia dura, corri a noite toda às voltas tentando evitar o caminhos dos meus receios, ambiguidades e dúvidas.
E num sonho de realidade, eu tenho medo de morrer.
Olhei curioso para um placard, que me respondia em néon de tom amarelado, “19:28”; “32º”.
Apenas queria chegar ao lar. Mas, não sabia para onde me dirigir. Que casa? Onde moro? Eventualmente habito apenas no mundo, e moro o teu coração! Caminhava absorto de corpo e alma… andava apenas entre caras sisudas e crespadas que nada me diziam. Por vezes quase que comigo colidiam, no entanto eu desviava maquinalmente o meu percurso.
Vaguei por aqui e por ali sem sequer me sentir, mas a viagem tem mais sabor quando cada cruzamento é uma incógnita.
A minha mente apenas me devolvia uma mácula de mulher, uma silhueta de ti. E no teu contorno me perdi…
Quase onze e meia da noite e lá em cima da noite, a lua parece pendurada numa rede atada a coqueiros do espaço, uma alcalada onde me escondo e me deixo embalar, contigo ao lado, no meio das estrelas que sorriem quando passam por nós.
Procurei bem no fundo da pasta inerte e suspensa no meu ombro esquerdo, a chave do teu coração que me tinhas dado no primeiro dia que me viste.
Afinal nem foi necessária, pois tinhas a portada semiaberta. Entrei, estavas de costas e envolvi-te com os meus braços, daquela forma que tanto gostas, apertando-te contra o meu corpo enquanto as minhas mãos construídas por um tapume de cristais de gelo te aconchegam o ventre e te provocavam arrepios.
“Chegaste e eu nem dei por ti…”- disseste enquanto eu penetrava os meus dedos em pequenos fios de cabelo, como vírgulas, alojadas sobre a testa e junto às orelhas, que te transmitem aquele peculiar encanto que revivo sempre que te olhos te vêm.
O ambiente estava calmo. O silêncio dos nossos lábios contrastava com o pujante ruído dos nossos olhos.
Ao longe, a voz rouca e triste de Leonard Cohen enlaçava-nos com a derradeira estrofe - “Your eyes are soft with sorrow/Hey, that's no way to say goodbye.”
Teus lábios entreabriram-se e deixas-te escapar um sorriso. Eu fiquei em hipnosia, e montei o teu airoso sorriso de forma a chegar ainda mais perto de ti.
Quando as minhas mãos se deixam levar pelo desejo de conhecer a tua pele doce debaixo do teu vestido não te quero assaltar, não te quero levar nada, porque meu amor, tu já me roubaste o meu coração há muito tempo. Por isso não te amedrontes. Apenas quero conhecer um pouco mais de ti. Quero apenas que sejas um bocadinho mais minha. Sempre mais e mais… E de todas as vezes que te abraço com força, de todas as vezes que deixo a minha boca escorregar para o teu gracioso pescoço e de todas as vezes que esta destra mão investiga a perfeição do teu ventre, eu só te quero a ti. Nada mais. Apenas terminar a nossa noite e explorar a perfeição do corpo e a ânsia que nos une e consome o corpo e o espírito.
E, tu sabes que o que arde em nós é impossível de encobrir, a lembrança de cada dobra do teu corpo consome-me, agora é tarde, é impossível evitar este desejo imenso que me ofusca a luz do dia e me suspende o sono.
A reminiscência do sabor dos lábios é forte demais para que consiga atirar para trás da porta do teu coração a vontade de te consumir inteira na minha vida.
Quero apenas que te deixes antojar o que não existe, e simplesmente te deixes levar, pela música, pela noite e por este alquimista de sonhos feitos.
E no cantinho da nossa imaginação, enquanto te atenuo do peso exagerado da roupa que te cobre, a tua sedosa e perfumada pele olha para mim despreocupada mas ardente de desejo na alcofa do teu interior. Eu fico contigo despido de roupagem, de preconceitos, e de alguém que quer ser alvo de alomorfia.
No cantinho do nosso sentir, enquanto te deixo completamente aguada de beijos, o tempo e o espaço correm sem fim avassalando o nosso amor, tal como corroem a noite que está quase a cair. A noite pode ser muita coisa, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, e já foi tudo isso no nosso universo. Tanta incerteza que viver é ambiguidade.
E na incerteza nocturna eu afastei-me das luzes e corri despido de roupa pelas ruas de ardósia dura, corri a noite toda às voltas tentando evitar o caminhos dos meus receios, ambiguidades e dúvidas.
E num sonho de realidade, eu tenho medo de morrer.
Texto: JC
Imagem: Google
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