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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Teatro da vida

Reconheço que sempre estive sentado na margem errada do rio, na beira desacertada da vida.
Naquele lado cinzento que pronuncia tempestades de ilusão.
Não há vontade de partir.
Não há vontade de ficar.
Vou fazendo horas. Metade da vida é uma perdulária expectativa, tonta, ansiosa e inútil.
Tal como um espectro que se senta numa gare de caminho-de-ferro, à espera de um comboio que não se sabe quando passará e qual o seu destino. Certeza, apenas a visão trémula dos carris que parecem fundir-se num só.
Certeza absoluta, apenas o local de espera e às vezes a própria espera.
Vê o que temos feito de nós… Essencialmente, não temos amado. Não aceitamos o que não entendemos porque não queremos. Com que fim?
Temos amontoado a alma de coisas, coisas e coisas, mas não nos temos um ao outro. Que objectivo?
Apenas vamos construído catedrais, e ficando do lado de fora. Talvez, porque as catedrais que nós mesmos construímos, podem vir a ser armadilhas. Ultimamente, não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua cércea de ódio, de ciúme e de contradições.
Temos disfarçado com o pequeno medo, o medo maior, e por isso nunca falamos o que realmente importa.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Eu sei que o meu mundo nunca foi azul celestial, nem a minha vida foi colorida como o arco-íris que ressuscita nas alturas.
No alto e por breves momentos, consigo ver-te, relembro o beijo de ardor, o abraço da alma, e todos os momentos que envolveram dois seres sedentos de amor e carinho.
Disse a mim mesmo que não chorava mais, mas não.
A minha dor está lá e não consigo dilui-la doutro jeito. Começo a chorar. No coração está presente a ferida de uma criança crescida embebida num homem imberbe... tenho medo!
Estarei sempre na espera de um toque suave no meu ombro, um abraço apertado e um beijo intenso. Lembras-te? Eu recordo aquele toque dos teus dedos na minha mão sedenta do teu amor. Sinto-os a percorrem-me os sulcos da espinha até chegar ao meu cérebro, sinto o meu corpo arrepiado transpirando de prazer. Sinto-te. O teu prazer também se intensifica e aqui estamos nós mais uma vez no enorme palco vazio de endereços, de público, sem a presença de um encenador que nos possa conduzir ao perfeito diálogo.
Sim, sei que já fomos assaltados várias vezes pelas pancadas de Moliére, mas nenhum de nós quis o papel principal.
Mas, ambos sabemos que este drama estará em cena até ao fim dos nossos dias.
Relembro o derradeiro diálogo da peça, uma encenação da nossa tríade da vida.
“Como eu te quero.” Digo em sussurro.
A lua ilumina o teu rosto, os teus olhos negros brilham de novo.
“Como eu esperei por este dia!” Exclamas.
O meu sorriso volta.
“Estou aqui contigo.”
“Tu estás aqui comigo?”
“Sim…”
“Então, derrama o teu sabor em mim.”
“Porquê?”
“Quero deslizar sobre o teu corpo delirante de paixão, como uma patinadora de dança num lago gelado!”

Novembro/2009

3 comentários:

continuando assim... disse...

lindo ----

e mais uma vez me arrepiaste :)

bj

até ao fim da vida... existe ??

:)
teresa

Laetitia disse...

Excelente, para não dizer brilhante.

Sophia disse...

Detesto tanto estas crises, mas é tal e qual. Quem me dera ter um bilhete só de ida, não importava para onde...