Vivo numa vida que não me cobiça viver. Tu dizes ter medo do meu desaparecimento. Eu vivo obcecado sob ele.
Deste-me a maior felicidade que poderia esperar. Tu foste sob todos os aspectos, tudo o que alguém pode ser.
Enquanto nos abraçávamos, existíamos antes, durante, e depois do futuro.
Vivíamos num limbo tão nosso que compusemos uma nova linguagem: os nossos olhos.
Antes de te conhecer apenas me serviam para olhar.
Hoje, tudo o que digo com os olhos é o que ontem concebia com a mente. Penso e falo com os olhos. O desconcerto, a pena, o cansaço, o desamor.
Os olhos sublinham tudo o que nos acontece. São os olhos a nossa nova linguagem e falam por mim e por ti, e foi com os meus olhos, que te contei a minha história, que te narrei o meu amor.
Não creio que duas pessoas possam alguma vez ter sido mais felizes do que nós fomos num finito espaço de tempo.
Mas cai o negro da noite devagar. Anoitece sobre os nossos ombros. Escurece onde não estou e em redor do meu corpo. Enluta por dentro dos objectos que evocam a tua presença. A penumbra invade o meu corpo, corrói tudo o que é sólido.
Antes, a solidão vergava-me, mas com o passar do tempo povoei-a com sorrisos, pequenos gestos que aderem à memória e me dizem que existo, que continuo vivo onde pressinto o coração a arder.
Há quem abomine o silêncio. Eu gosto. Sinto-me acompanhado pela minha irrequieta consciência em rebuliço.
No silêncio há respostas do inconsciente. Cheiramos de perto o odor afrodisíaco da beleza da conciliação.
Apetece-me dissolver discretamente no nada em que me transformei. Fechar os olhos e desaparecer docemente, sem mover um único músculo, como se nunca tivesse existido.
Imagino as voltas da minha vida, as promessas perpétuas que nunca se cumprem. Penso nas relações que se juram sólidas e ao mudar a folha do calendário expiram. Flutuam as emoções que vão mudando como um barco à vela ao sabor do vento. Houve um tempo em que sabia que a minha vida ia ser especial, distinta. Ideais, valores superiores, razões para lutar. Mas a visão turvou com a presença de lágrimas que nos foram impostas.
Passámos a viver mundos discrepantes. O teu universo passou a ser distinto do meu.
Hoje vejo-me de novo prisioneiro da monotonia, na cor cinza, na existência com uma única razão, a de lutar por mim mesmo sem grande firmeza.
Sei que estou a arruinar a tua vida e que sem mim poderias viver a verdade plena. Irás vivê-la. Eu sei que sim.
Como vês, nem os textos que escrevo no momento fazem sentido.
O que te quero dizer é que te devo, a ti, toda a felicidade que tive na vida, foste para comigo duma paciência infinita. Não vou continuar a arruinar mais a tua vida.
Apetece-me cerrar a boca de medo e gritar com força a raiva que me arranha a carne, que me dilacera o coração.
Mas agora sei que amar, dói. Que o amor é uma palavra que por vezes nos destrói. Que existem amores impossíveis. Que afinal não basta amar loucamente.
Apetece-me arrancar os braços que um dia te abraçaram, como se fosse sempre, sempre, a última vez.
Apetece-me morder as mãos, até espicharem. Sim, aquelas mesmo que um dia te mediram o corpo e tomaram a altura do teu peito. Apetece-me atirá-las à parede até que se desfaçam em sangue.
Apeteces-me. Ainda.
É o tesouro que se atinge quando se aprendeu a estar solitário, tem-se tudo e não se desfruta nada. O que restava da memória foi partilhado ou foi abandonado para sempre. Tudo está constantemente presente e vibra sob a luminosidade imperceptível de ser eterno na fracção de segundos.
Se morresse agora não deixava nada, porque bebi toda a minha sede, esvaziei-me, devorei noites do amargo que têm as coisas antes de nos pertencerem.
Teu corpo, por exemplo custou-me tanto inventar-lhe formas consistentes, um reflexo, uma sombra que se lhe adaptasse e o acompanhasse. Apenas percebi que o não tinha inventado da primeira vez que te vi.
Teu corpo coabita hoje dentro de qualquer espelho onde o meu se consumiu.~
Deste-me a maior felicidade que poderia esperar. Tu foste sob todos os aspectos, tudo o que alguém pode ser.
Enquanto nos abraçávamos, existíamos antes, durante, e depois do futuro.
Vivíamos num limbo tão nosso que compusemos uma nova linguagem: os nossos olhos.
Antes de te conhecer apenas me serviam para olhar.
Hoje, tudo o que digo com os olhos é o que ontem concebia com a mente. Penso e falo com os olhos. O desconcerto, a pena, o cansaço, o desamor.
Os olhos sublinham tudo o que nos acontece. São os olhos a nossa nova linguagem e falam por mim e por ti, e foi com os meus olhos, que te contei a minha história, que te narrei o meu amor.
Não creio que duas pessoas possam alguma vez ter sido mais felizes do que nós fomos num finito espaço de tempo.
Mas cai o negro da noite devagar. Anoitece sobre os nossos ombros. Escurece onde não estou e em redor do meu corpo. Enluta por dentro dos objectos que evocam a tua presença. A penumbra invade o meu corpo, corrói tudo o que é sólido.
Antes, a solidão vergava-me, mas com o passar do tempo povoei-a com sorrisos, pequenos gestos que aderem à memória e me dizem que existo, que continuo vivo onde pressinto o coração a arder.
Há quem abomine o silêncio. Eu gosto. Sinto-me acompanhado pela minha irrequieta consciência em rebuliço.
No silêncio há respostas do inconsciente. Cheiramos de perto o odor afrodisíaco da beleza da conciliação.
Apetece-me dissolver discretamente no nada em que me transformei. Fechar os olhos e desaparecer docemente, sem mover um único músculo, como se nunca tivesse existido.
Imagino as voltas da minha vida, as promessas perpétuas que nunca se cumprem. Penso nas relações que se juram sólidas e ao mudar a folha do calendário expiram. Flutuam as emoções que vão mudando como um barco à vela ao sabor do vento. Houve um tempo em que sabia que a minha vida ia ser especial, distinta. Ideais, valores superiores, razões para lutar. Mas a visão turvou com a presença de lágrimas que nos foram impostas.
Passámos a viver mundos discrepantes. O teu universo passou a ser distinto do meu.
Hoje vejo-me de novo prisioneiro da monotonia, na cor cinza, na existência com uma única razão, a de lutar por mim mesmo sem grande firmeza.
Sei que estou a arruinar a tua vida e que sem mim poderias viver a verdade plena. Irás vivê-la. Eu sei que sim.
Como vês, nem os textos que escrevo no momento fazem sentido.
O que te quero dizer é que te devo, a ti, toda a felicidade que tive na vida, foste para comigo duma paciência infinita. Não vou continuar a arruinar mais a tua vida.
Apetece-me cerrar a boca de medo e gritar com força a raiva que me arranha a carne, que me dilacera o coração.
Mas agora sei que amar, dói. Que o amor é uma palavra que por vezes nos destrói. Que existem amores impossíveis. Que afinal não basta amar loucamente.
Apetece-me arrancar os braços que um dia te abraçaram, como se fosse sempre, sempre, a última vez.
Apetece-me morder as mãos, até espicharem. Sim, aquelas mesmo que um dia te mediram o corpo e tomaram a altura do teu peito. Apetece-me atirá-las à parede até que se desfaçam em sangue.
Apeteces-me. Ainda.
É o tesouro que se atinge quando se aprendeu a estar solitário, tem-se tudo e não se desfruta nada. O que restava da memória foi partilhado ou foi abandonado para sempre. Tudo está constantemente presente e vibra sob a luminosidade imperceptível de ser eterno na fracção de segundos.
Se morresse agora não deixava nada, porque bebi toda a minha sede, esvaziei-me, devorei noites do amargo que têm as coisas antes de nos pertencerem.
Teu corpo, por exemplo custou-me tanto inventar-lhe formas consistentes, um reflexo, uma sombra que se lhe adaptasse e o acompanhasse. Apenas percebi que o não tinha inventado da primeira vez que te vi.
Teu corpo coabita hoje dentro de qualquer espelho onde o meu se consumiu.~
A solidão não é uma opção, mas uma carência que surge das profundezas do nosso ser.
Quando tudo abandonas, quando foges de ti próprio, aos poucos, os outros também te abandonam e, assim, vais ficando, preso ao chão com um inerte espantalho carcomido pelos bicos pontiagudos do desespero.
2010-01-11
Quando tudo abandonas, quando foges de ti próprio, aos poucos, os outros também te abandonam e, assim, vais ficando, preso ao chão com um inerte espantalho carcomido pelos bicos pontiagudos do desespero.
2010-01-11
7 comentários:
Que texto fantástico, posso dizer mesmo brilhante!
Saboreei cada palavra decemente escrita neste texto, reinventei-me e até me encontrei nalguns momentos de solidão...Lindo simplesmente sem palavras.
Beijinhos:)
Susana
Um texto que li, sentido, ferido, bonito... Vi-me na imagem desfocada que não ousamos enfrentar..
Sabes o que apetece amigo? Dar-te um abraço e dizer-te, venha o que vier, é-nos permitido voar!!
Também gosto do silêncio: ele é sábio! Apesar de ser muito tagarela! rsrsrs
Bjks e ótima semana!
Este texto é muito complexo. Creio que os impossíveis existem na nossa mente e apertam o nosso ser, tornando-o muito pequeno, mas nós sabemos que Tudo é possível e que somos na nossa essência grandiosos.
Sentir um amor impossível, já é bom porque embora impossível, não deixa de ser Amor!
Muito grata pela visita aos universosquestionáveis e pelo comentário deixado.
Até breve :)
Maravilhoso texto...adorei, lindo.
Vou voltar
Beijinhos
Sonhadora
Obrigada! Por gostares!
...
Quero ser dona da solidão!...
Do meu interior e da paz
e soltar livre o coração!
...
(bocadinho de um poema meu)
gostei muito do que encontrei aqui. Escreves muito bem, parabéns!
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