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sábado, 20 de março de 2010

O olho do Diabo


As premissas de índole pessoal que me obrigaram a este breve afastamento foram ultrapassadas. Tal como entrei na minha vida… numa noite cerrada de nevoeiro, aqui regresso na intenção de partilhar as minhas ideias, as minhas convicções e principalmente libertar os sentimentos que me inundam a alma.
Este texto foi escrito com uma outra intenção. No entanto e devido aos desvios que a nossa vida percorre, foi um pouco modificado, mantendo no entanto a sua essência, que é a magoa de quem nunca foi nem, é compreendido.
Quem sabe, um dia, um anjo me possa entender.



Não, não nasci num dia invernal, mas entrei a medo na vida como numa noite de cerrado nevoeiro.
Coberto pela densa bruma, fui caminhando aos tropeções. Muitas vezes encalhei, cai e levantei.
Em petiz, acotovelado no parapeito da janela, apenas eu e o luar. Namorava a lua, e a minha imaginação metamorfoseava as crateras, no olho do Diabo.
Quem sabe se um dia eu substituí a Terra e a minha imagem se interpôs entre a Lua e o Sol, e desta forma tenha provocado um eclipse lunar que preponderou, para sempre a minha existência.
Agora que os anos avançam em rodopio e a turbulência aumenta como num tornado, o tempo urge e nunca desejei que as coisas se passassem assim. Escolhas feitas, vidas destinadas, sonhos esmorecidos na escalada de cada noite, euforias tresloucadas no pedalar das horas.
Perdi a noção do que é pensar, agir. Sinto que por dentro me esvaio em rios de desalento em afluentes de tristeza.
Será que nasci morto, seco, condenado a viver uma vida de recluso dentro de um corpo, obrigado a vislumbrar o mundo como se espiasse pela fechadura da porta do engano?
Meio século carrego nos ombros e receio decidir. Outro meio século me pode esperar até eu embarcar na derradeira carruagem da audácia e hesitarei sempre!
O medo! Os meus medos são como velhos castelos de assombrar, gritos castrados contidos, no peito a matar. São matagais que acabam por asfixiar os meus sentidos que me atalham de procurar a felicidade.
Sempre esta vontade de fugir. De quê? Não sei. De mim, provavelmente. Partir simplesmente sem destino nem limite. A palavra é essa. Partir. Quebrar amarras, deixar lugares, sem adeus, sem despedidas.
Sentir a falta das pessoas em vez de me desiludir delas, todos os dias.
Mas fico. E com razões que me dou, me engano, sabendo-o. Talvez a viagem seja ilusão. Porque, na bagagem, comigo levaria a vontade de fugir.
Um ombro surgiu repentinamente. Nele repousei a minha cabeça e fez germinar o amor que carrego. Quando os seus cabelos balançaram à minha frente adornando o seu rosto, e os seus lábios carmim beijavam os meus, um misto de pudor, receio e desejo, me invadia em silêncio, emocionado, qual veneno delicioso inoculado e fui perdendo aquele enclaustrado receio.
Mas, cansei-me de contemplar ao longe tentando vê-la, fatiguei-me de olhar o sol esperando pelo meio-dia, e o pior esgotei-me de mim.
Passei horas tentando desenhá-la, sim fui-me afastando e afastei-a de mim, como se fosse uma simples miragem, o que me fez deslindar, que sou mau a desenhar, o fim de um sonho, o início de uma ilusão, o intermédio de uma simples imagem.
Nada mais me resta que percorrer a calçada molhada e fria da vida. Julgo que o tempo olhou e me virou a cara.
Mas o tempo de quem ama é diferente do tempo real. Um rege-se pelos ponteiros do relógio, o outro segue o bater do coração.
Escuta a voz que te clama, te mendiga que pelo menos, voltemos aquele lugar em que o tempo e o espaço não existem. Mas com a verdade estampada nos nossos rostos e no nosso coração, em que o relógio deixa de contar os segundos, os minutos, as horas.
Onde o silêncio é apenas rasgado quando um de nós diz: intimidade. O outro diz: entrega. E ambos dizemos: amor.
Mas esse amor transformou-se num nó na garganta que oprime os dias que espreitam ao longe, as sombras que correm velozes que se enleiam nas nuvens do meu olhar, distante… E magoa.
Magoa muito a dor de amor. E a lágrima que solto são pingos de sal, que a garganta engole.
Sei que ainda vivo e respiro todos os santos dias, como desde pequeno o faço, sempre lamentando a atrocidade de viver uma vida acompanhado para fortuitamente vir a morrer sozinho.
Penso que actualmente os meus sonhos são teias soltas no ar, nuvens de espuma, lençol de seda a esvoaçar, areais finos e quentes, vida a transbordar cascatas de água fresca que correm para o mar.
Sim! E eu já vi o mar um dia, com suas nuances esmeraldas e brancas espumas.
Lembro também o grande céu pintado de anil, que era visitado por nuvens de algodão em correrias, e a noite; subitamente riscada pelos astros cadentes, quando as suas mãos me acariciavam o rosto e os seus lábios afagavam os meus.
Estou convicto que tal como despertei, em dia de nevoeiro morrerei. O olho do Diabo permanecerá a velar a urna da minha angústia.
Oh! Triste sonhador, que sonhas o impossível.
Amar é sentirmos os átomos da nossa existência, fazendo combinações químicas e agregando-se entre eles como cadeias moleculares indivisíveis.
Tudo o mais que possamos imaginar é supérfluo.

9 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu amigo
Mais um belo texto, palavras que entendo, mas fugir não merece a pana pois levamos todo o nosso EU...
Gostei muito.

beijinhos
Sonhadora

catwoman disse...

Já tinha saudades, meu amigo. Ainda bem que regressaste. As tuas palavras... parece que descrevem metade da minha vida. Estes últimos anos em "modo de sobrevivência", fugir era o sonho de todos os dias. Depois de tomada a decisão tornou-se irreversível. Mas, sabes? o que veio a seguir não foi o fim, foi um início cheio de promessas. Beijinhos.

Moi disse...

Há sempre esperança quando o sonho permanece!...

DoceAroma disse...

O medo ... sempre o medo... o desejo de fuga interminável. Acabamos não a fugir dos outros mas de nós mesmos, dos nossos fantasmas, das dores que não queremos repetir, não é solução mas às vezes quase parece o único caminho. Sonhamos com dias melhores, com dias diferentes, mas a história parece repetir-se e quase parece destino, mesmo que dele duvide e acredite que somos nós que o fazemos... seremos?

Beijo

Maysha disse...

Ola Sonhador
Vim dar-te as boas vindas, fico feliz por puder continuar a ler-te.

Tenho um selo para ti, ofereço com carinho.
Beijo de luz
Isa

Ennoea disse...

Tens de ter força para encontrares o teu caminho. Em qualquer momento da vida é altura de alterar o percurso!
Apenas é preciso coragem.
Beijinhos

Penélope disse...

Olá, Sonhador!

Que bom que voltaste a repartir teus medos, tuas angústias, teus desencantos...
Quem partilha, seja o que for, nunca estará sozinho.
Estamos todos nós, aqui, a te ouvir entre os desenhos das letras.

Haverá um dia em que acordarás e verá um SOL grandioso a brilhar sobre ti.

Um dia em que as flores te sorrirão e deixarão rastros coloridos pelo teu caminho.

Acredite! Nasceu para ser FELIZ, apenas a felicidade está adormecida dentro de ti, em algum cantinho, esperando que tu a liberte.

Um grande beijo em teu coração.

Que te possa servir de consolo - meus dias não são feitos de intensa alegria, mas eu os torno imensamente alegres...

Estar de volta já é um bom começo, meu lindo.

Susana Vaz Pedro disse...

Que bom que voltou!
Saboriei as suas palavras com encanto...
Um beijinho de boas-vindas!
Su

Unknown disse...

Ola querido sonhador... que bom te-lo de volta aqui em seu espaço... e com uma entrada espectacular! Gostei do seu texto...!
E quanto ao triste sonhador.....
a cada coisa k nos imagina-mos ou sonhamos nos partece sp irreal ou ilusao, mas a graça e essa mesma! Por isso e necessaria sp a nossa imaginação e originalidade em transformar nossos sonhos em realidade!
uma boa continuação, beijinhos x)